domingo, 27 de janeiro de 2013


Me pergunto se a tal pessoa que acendeu o sinalizador que condenou à morte outras centenas, sobreviveu. E me perguntava se o dono da brilhante ideia também. Indigna porque, mais uma vez, na mesma semana, poderíamos ter sido eu e você. Assim, jovens com a vida toda pela frente, que saiu de casa com todas as expectativas de um domingo preguiçoso, com muitos motivos para dar risada.

O problema é que é sempre mais álcool, sempre mais drogas, sempre mais luzes, mais velocidade, mais ação, mais "emoção". Não bastava o palco que muitos almejam, a casa de primeira linha, a multidão enfervecida. É preciso sempre mais. Os donos desses excessos condenam a própria e a de outros ao seu redor. E ainda alguém há de dizer: "pobrezinho, foi um acidente". Fechamos os olhos para os excessos, para a busca vazia de emoções efêmeras e incapazes de preencher o vazio maior de nossas vidas - a perda das relações, do respeito, dos valores, da capacidade ver a beleza natural, a vida despida de maquiagem.


E são essas as pessoas que frequentemente fogem das emoções da vida real. Que evitam as responsabilidades, os envolvimentos, o aprofundamento em qualquer questão que dure mais de uma noite e que não se vá em algumas horas. As emoções da vida cotidiana. Não constroem, não dizem, não se posicionam, não se responsabilizam e não se apegam.

A tragédia é sintoma de uma sociedade despedaçada, da ausência dos valores, da queda iminente daquilo que nos faz mais humanos.... Na mitologia grega, Zeus em todo o seu esplendor e glória, exibia-se entre raios e trovões, mas condenando à morte os humanos que queriam vê-lo.

Por que tanta gente esquece da nossa própria condição humana? Que precisa descansar, se machuca, que se ressente, que não é capaz de tudo?


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Fragmentos de um pragmático 2012

Essa não vai ser uma antologia emocionada nem uma tocante retrospectiva do ano como foi a desabafante de 2011. O ano foi mais leve? Não creio; nem menos emocionado. 2012 teve muita crueza, muito esforço, muita superação. Muitas lágrimas não derrubadas, muitos daqueles momentos em que se mantém de pé, sorrindo, por uma simples decisão de não fraquejar.

2012 foi fragmentado. Para uma dessas pessoas que criam raízes, como eu sou, trocar de emprego três vezes soa como mácula - mesmo que as trocas tenham sido sempre pra melhor e mesmo que a "troca" esteja "na moda". Mas fazê-las exigiu de mim muito esforço, muita coragem psíquica, revisão e reavaliação dos meus conceitos e longas brigas morais comigo mesma. Pode parecer bobagem, mas o stress me rendeu uma inédita dor no ciático - ok, eu tenho 29. Mas o que mexia comigo mesmo era a natureza das trocas, praticamente duas trocas de "profissão". Soava para meus ouvidos como jogar a tolhar, abrir mão do que eu tinha construído e viver em eterna nostalgia, para, quatro meses atrás, ver resgatado tudo o que achei que poderia estar perdido.

Apesar do stress interno - vocês nao imaginam a canseira e a trabalheira que cada troca de rumos dá numa pessoa. Os neurônios ficam em polvorosa, as emoções oscilantes feito o clima de SP - aprendi DEMAIS. Aprendi a aceitar. Conheci o mundo corporativo. Conheci gente brilhante; conheci gente interessante e conheci o que há de pior no ser humano - intencional ou inconscientemente. Acredite, se você vive exclusivamente numa redação e acha que vê muito do mundo por conta das matérias que faz, você está profundamente enganado. Pare de criticar o capitalismo selvagem, tenha coragem de botar em xeque suas próprias ideologias. É menos piegas, dá mais trabalho, mas pode iluminar mais o seu caminho. Todo mundo tem uma certeza e uma verdade; o mundo é mais cruel e mais cru, menos utópico. 2012 foi o ano do pragmatismo, em contraponto a uma Pamela sempre com a cabeça nas nuvens e pé no chão.

Se há algo de maior a extrair  de cada "parto", foi o contato com as pessoas. Para muito além da natureza de cada atividade, o que a gente aprende mesmo está na troca com as pessoas (reparam quantas vezes a palavra "troca"? Não é má redação, só uma figura de linguagem).  É no convívio com elas que você aprende a se defender, a se posicionar, a chorar-para-mamar, a não ser molenga, mas a manter sempre, sempre mesmo a ternura, o lado humano. Por mais dura que possa parecer a situação. Como já disse, todo mundo tem uma verdade e um sentimento a ser considerado.

Dos 361 dias que passaram, formo algumas imagens no inconsciente: um band-aid numa ferida curada, alguns rostos. Trouxe grandes amigos dessa aventura, como os quatro que deveria ter encontrado hoje (sorry guys, still love you! S2), o ex-chefe, mas sempre e mentor e amigo; a colega de trabalho promovida a amizade anywhere-anytime, a ex-parceria de mesa e noiva do ano de 2013. E aqueles que entraram na minha vida recentemente: sinto que a Padrão ainda tem muito o que mostrar. Fiz muitas parcerias em  2012.

De 2011 para 2012, ficou a mesma certeza, embebida em enredo diferente: o mais importante (e interessante!) é quem a gente conhece no meio desse caminho desconhecido....






Time
Don't let it slip away
Raise yo' drinkin' glass
Here's to yesterday



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Onde os fracos não têm vez



"Coragem! Vamos, Pamela, coragem, não desiste!"

Se tem algo que eu aprendi com a dança, foi a arte de superar as dificuldades e a superar-me; a conviver com a dor e a desafiá-la. A ter certa resignação perante a aflição física - e mental também, só quem dança sabe a quantas provas sua mente é submetida - e a acreditar, aceitar o fato de que era preciso encarar aquela dor para crescer. E encarar outras dores cada vez maiores e subsequentes para ter alongamento melhor, perna mais alta ou conseguir equilibrar-se. Não fosse o enfrentamento da própria angústia, o treino incessante e o recomeçar depois de cada pirueta espatifada no chão, não haveriam Ana Botafogo nem Mikail Baryshnikov.

Cada aula me ensinou (e ensina ainda) muita coisa que eu levo comigo no dia a dia: a atuar em conjunto, mas também a saber o meu papel individual no meio do todo. A esforçar-me, a esticar-me, a aguentar firme por dentro para não comprometer o conjunto da obra. Era responsabilidade de cada um, em cada coreografia, fazer com que ela saisse conforme o planejado. E fazia parte também sentir o braço doer porque a música falhou, continuar sorrindo depois do escorregão, o partner jogar-se embaixo da colega bailarina porque ela iria dar com o nariz no chão.

No entanto, na era da comunicação rápida-geração Y-obsolescência do novo, resistir parece fora de moda. Troca-se de emprego, de roupa, de marido, animal de estimação e tá tudo resolvido. Trocar é sempre mais fácil do que enfrentar; omitir-se é mais cômodo do que expôr-se. É mais fácil, mas talvez não seja o mais inteligente; o bordão diz que tudo nessa vida tem um preço.


You may say I'm a dreamer, mas eu não acredito em quem esmorece diante da adversidade, em que se melindra, em quem desacredita, em quem desiste. Porque não há nada na vida além disso. Não há garantias, não há certezas, não há plenitude. Quem espera que a vida seja feita de ilusão... 

Ninguém disse que seria fácil, ninguém disse que essa aventura tinha um capítulo só. E que não seja mesmo; o que faz o coração pulsar, a espinha arrepiar é exatamente o desafio. A grandeza de espírito está em saber que os obstáculos são muitos, que os resultados nem sempre são imediatos ou perfeitos, mas que, para sobreviver é preciso resistir. E para chegar, é preciso insistir. É preciso ter coragem. É preciso ter RAÇA. Os fracos não têm vez. Em todos os aspectos.


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A frase lá em cima foi dita, incontáveis vezes, por um grande mestre, o coreógrafo Edy Wilson. Ele me ensinou a não desistir depois de cada bronca; que, por mais demorados que fossem, os ganhos viriam. "É quando eu te corrijo, quando eu brigo com você que eu quero ver você me provar que você pode. Não vai adiantar querer se esconder. Tem que ter RAÇA  pra encarar isso aqui". 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Às vezes ainda me pego pensando na mesma coisa. Há um ano o castelo - que era de areia - desmoronou. Desde então, muita coisa mudou, dentro e fora de mim. Deixei de acreditar em castelos, em arco-íris, em algo além do horizonte. Não creio mais na magia, nem no intangível. Deixei de acreditar que há algo além do palpável, deixei de acreditar que há um significado oculto em tudo, que há uma aura inexprimível mas presente em tudo e todos.

Desejo não ser pragmática demais, mas esqueci a magia nalgum canto!!! Acho que a vida é em branco e preto; ou melhor, preto no branco. A gente que atribui cores demais. Talvez ela seja assim, puro delírio, pura ilusão - mágicos não existem, apenas ilusionistas. Afinal, é tudo carbono, indo e voltando no ciclo eterno e natural. Onde foi parar o neon, a trilha sonora, a brisa do fim de tarde? Onde eu os esqueci?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Reflexões sobre o celular e a vida (sim, é isso mesmo!)

Saí para almoçar, como de costume, e me deparei com uma mocinha recostada no portão de um dos casarões antigos que circundam a empresa. Soluçava muito; tinha o rosto muito vermelho e empunhava um aparelho de telefone celular. "Você quer desligar", chorava ela, ainda mais alto e desesperadamente. Nessas horas, tenho certa vontade de parar e perguntar, acodir, dizer algo - maldita empatia que me faz pensar nos momentos que já quis que algum ser humano compreendesse minha dor quanto me sentia tão solitária. Mas felizmente a luz do bom senso sempre recai sobre mim e desisto da minha compaixão, para a alegria do meu lado sensato, que não quer ser chamado de intrometido tampouco de louco.

A imagem dos dois braços tatuados, aliados ao coturno preto, apesar do calor e da saia jeans, contrastavam fortemente com o frágil pranto a que ela se entregara. Saí dali refletindo que a chamada que recebera (ou fizera) teria interrompido seu dia. Interrompera o caminho, o dia, o trajeto, as próximas horas. Torci para que ela não estive indo para o trabalho; o prejuízo seria maior. Bons eram os tempos em que se podia esperar a hora de chegar em casa para ter uma briga ou receber uma má notícia; assim como eram bons os tempos em que se podia romper sem nunca mais ter notícia do ex-vínculo. Especulei sobre o uso da mochila que ela carregava. Que ela fosse ao cursinho, à faculdade, à escola; qualquer lugar onde os momentos que se seguiam fossem ligeiramente mais confortáveis.

A questão é que agora somos localizáveis, acessíveis, encontráveis o tempo todo, mesmo que não desejemos. Estar offline significa a perda de negócios, de relacionamentos, de amigos, de namoros, de informações - mesmo que não as mais importantes. Mas é essa mesma acessibilidade - ou a exigência por ela - que nos afasta, que nos descompõe, que desvaloriza o equilíbrio e a reflexão. Que reforça a impulsividade, a aparência e a impessoalidade. Que exige a presença mas que valoriza a ausência também. O fim da picada começou com o sexo por telefone (e depois cibernético) e termina na discussão: "Posso terminar meu namoro por email?"

É mais conveniente exigir a atenção do outro a todo momento, a todo lugar, sob qualquer circunstância do que lidar com a própria insegurança; assim como é mais fácil eximir-se da responsabilidade de olhar olhos nos olhos para dizer as incompatibilidades e as dores. E nada substitui o sentir, o intuir e o perceber. A linguagem corporal, o piscar dos olhos, o tom de voz, o toque. Evitar o fardo e o enfretamento, assim como dispensar a reflexão silenciosa.

E por que minha zanga recai sobre os aparelhos de telefone celular? Porque são os mais portáteis dos conectores e o mais online de todos, em todas as redes. Permanecem colados ao corpo, extensões de nós. Eu mesma já cometi a atrocidade de voltar para casa para buscá-lo - e mais de uma vez. Ele impera que encarnemos todos os papéis de uma vez só: somos, ao mesmo toque do celular, o profissional, o amante, o filho e o amigo. E é remota a chance de negar qualquer atuação.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço"


O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou... Jornalista!


Isso dito, fica claro: jornalista não é só uma questão de querer, é uma questão de ser. E não há muito como lutar contra a própria natureza, à inefável predestinação. É instinto que existe, que faz pensar em pautas em meio ao brigadeiro da tarde, no tombo do amigo e no singelo soprar do vento pela manhã. É muito mais uma questão de perfil, de não-explicar-se, de ser e nunca de estar. 

A gente é jornalista mesmo sendo professor de inglês, bailarina, faquir ou cozinheiro. É jornalista na cama, na ressaca, na desgraça, aos prantos e aos cantos. Em todos os cantos. Não é algo da qual se possa fugir. É como a maldição da Bela Adormecida - não adianta livrar-se dos teares, das agulhas, dos alfinetes. Você vai picar o dedo, a premonição se fará. Não há escolha real. 

E é por isso que eu ainda me disponho a pagar o preço, a pagar pra ver e a apostar naquilo que me faz brilhar os olhos... Não há nada mais que me faça suportar as dores de qualquer outro dia-a-dia, de subir as montar e saltar os obstáculos. Que me faça ver o Sol apesar-de-tudo. Por mais que eu tente, que eu me esquive, a alma vem cutucar: "Ei, mas e o jornalismo...?" Mergulho num texto e desapareço; fico imbuída de reportagem. E a satisfação de ver um texto pronto, redondinho. 

Dizem que a gente sempre tem uma escolha. E eu escolho ser feliz, deixar fluir, deixar viver. Sim, é uma profissão fascinante. E ignore quem ousar dizer o contrário. 


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tarde de maio


É assim, foi assim. Uma tarde de maio. 

Tarde de maio 

Carlos Drummond de Andrade


Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa...
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Em cada vez que preciso de um apoio;
Para cada história que eu tenho para contar;
Cada vez que meus olhos querem marejar; 
Nas vezes em que o cansaço é maior;
E naquelas que sinto que vou conquistar o mundo;
Em cada vez que eu quero dividir um segredo ou anunciar um plano;
Em cada momento delicado;
Nas horas tensas;
No dias em que o sol é mais bonito;
Ou quando a chuva cai insistentemente; 

Eu penso em você.
E decido que voltarás. 

domingo, 29 de julho de 2012

Miss Bricolagem


Hoje, recebi a missão de ir até a Leroy Merlin e comprar uma broca para a furadeira. Topei cumprir a tarefa atribuída por meu pai - que setorna sexagenário na próxima quarta-feira - e fui. A tarde ensolarada, do veranico que se instalou no dia de hoje deixou o trajeto mais agradável. Chegando lá, pus-me a passear pelos corredores, buscando um que tivesse a inscrição "ferramentas". Tamanha era a loja, que sentia como se estivesse caminhando quilômetros até encontrar a tal peça.

No trajeto, passei pelas peças de toalete e pelas maçanetes. Gastei um bom tempo observando cada uma delas. Pensava na minha futura casa; pensava que tinha vontade de comprar algumas daquelas peças e guardá-las, montar uma caixa "minha casa". Demovi-me da ideia, seria um tanto irracional. Os itens poderiam cair de moda, poderiam não combinar com a minha futura residência. Seria uma bobagem dispender meu dinheiro com isso agora.

Estava me divertindo ali solitária. Fui olhar as banheiras. Lembrei que eram frequentes as visitas em família à antiga "Madeirense" - a marca agora se junta a outros ícones como Mappin e Mesbla, que já se foram. Eu e minha irmã nos encantávamos com as banheiras. Entrávamos nelas, escolhíamos as redondas e pedíamos para o pai comprar uma (as redondas e mais bonitas nunca caberiam no nosso banheiro retangular, mas vá lá). Certa vez, ele chegou realmente a cogitar a possibilidade: trocar algumas peças sanitárias de lugar, desfazer-se do antigo bidê e teríamos espaço para uma banheira, das menores e retangulares. Claro que nem eu nem ela nos animamos em deixar de lado nosso sonho "redondo". Além do mais, as obras e os gastos não justificavam os benefícios. O único fato é que o bidê realmente deixar de existir dentro do cômodo...

Aqui em casa, sempre houve o hábito da bricolagem. Gastar o domingo fazendo pequenos reparos, melhorando um detalhe aqui e ali, dando um retoque. Nunca tivemos decorador, arquiteto, alguém que nos auxiliasse para isso; a não em caso de grandes serviços. Embora muita gente prefira ter um erstranho fazendo certos trabalhos, eu aprendi a ter satisfação pessoal em fazer isso. E não é simplesmente mera redução de custos, é ver a coisa acontecer, da maneira como eu quis. Me ver capaz, ver a coisa surgir. E de poder fazer sempre, a hora que eu bem quiser, sem depender de outro. Poder manter, sempre, as coisas nos conformes.

Pouca gente se dispõe a tal. Faz sujeira, dá trabalho, machuca as mãos e as unhas esmaltadas não duram. Para a maioria, é melhor passar o domingo no sítio, no restaurante, ou vendo o Faustão. Mas eu ainda acredito que isso é uma questão de valores: de cuidado com o seu espaço; e quem ama, cuida. Com o mesmo cuidado de um artesão.

Por fim, além das brocas, trouxe um jogo de espelhos (de tomada) para o meu quarto. Há meses os queria todos brancos. Terminei a tarde parafusando e desparafusando um por um. E arrastando alguns móveis para isso. Não tenho a minha casa ainda, mas vou ensaiando minha aqui dentro do meu espaço, do meu canto...

domingo, 15 de julho de 2012

E seu eu não quiser despertar? E se eu quiser viver criando o sonho quase real, vivendo a ilusão, compondo minha própria canção? E se eu quiser imaginar meu próprio videocliple, editar apenas com as partes mais bonitas e ter a trilha mais inspiradora? E seu quiser viver no meu parque de diversões holográfico, escolher as melhores lembranças e brincar com ela?
Quem vai me impedir?

domingo, 24 de junho de 2012

Aqueles braços

Eram perfeitos para me proteger. Chamaram tanto a minha atenção que não me lembro das ranhuras do rosto nem da camisa - como eu não me lembrava da camisa? Não me lembrava da sua camisa ou camiseta, muito menos do peito, área que costumeiramente atrairia meu olhar e sentidos. Só lembro dos seus braços - e pouco me lembro da parte em que se delineavam os belos músculos. O que admirei fora a "seção" que sustentava o relógio e os pelos claros.

Aqueles braços estavam prontos a puxar-me leve e bruscamente para perto, a transmitir-me a energia masculina da qual precisava. Eram os braços que evitariam minha queda e que me suspenderiam no ar; os braços me envolviam e os quais estaria sempre pronta a acariciar. Ah, aqueles braços! Esqueci de uma meia dúzia de palavras que possam ter me desagradado, mas não esqueço daqueles braços...


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nem um ano sequer


Achei um papel no meio do livro. Notei que continham letras manuscritas em tinta preta. Antes de abrir, torci para que fosse uma boa notícia, uma lembrança boa, um bom presságio escondido dentro das páginas que eu só abriria alguns meses depois. Era a feliz memória de uma confraternização entre amigos; um jogo inteligente e engraçado, típico daquelas pessoas que, ao acaso, gostavam de trabalhar e de estar juntas; fora há quase um semestre. E dei conta do tempo.

Um ano se passou desde aqueles dias e muita coisa mudou. Muita coisa continua mudando. Mudei praticamente tudo o que pretendia mudar - falta pouco. Eu não imagininava esse ano depois, eu não poderia imaginá-lo. Dentre as circunstâncias semelhantes, previa sempre as possibilidades boas e más - desta vez, só o positivo estava contemplado. Mudaram as situações, os locais que frequento, as pessoas ao redor, a rotina à qual me submeto, as formas que me rodeiam, os movimentos e caminhos que faço. Só as alfinetadas em meio a interrogações e flashes que ainda permanecem. Muito mais intermitentes sim, com facilidade para enxotá-las e até desprezá-las quando quero. E ainda surgiam no meio do clipe amargamente reconhecido, da frase rememorada. 

Eu tinha muito medo de que esse ano passasse. Sabia que seria muito, sabia que o tempo era inexorável, sabia que a situação seria realmente irremediável. Temia muito que isso acontecesse, mas não confiava que esse dia seria real; seria tudo da maneira mais cinza possível e eu só almejava o azul anil... E passou. Da maneira mais novelesca que poderia passar, com as lembranças a galope em meio a um turbilhão de grandes e pequenas mudanças dentro e fora de mim. Sou outra e sou a mesma. 

E não tenho mais medo de me expor aqui. Não tenho mais medo de me colocar um pouco mais. Não tenho mais medo de parecer tola, estou aprendendo a engolir orgulhos e de manter outros. Foi ter tido esse medo que carrego alguns arrependimentos - muito embora ele possa não ter sido "decisivo". Mas eu sempre acredito que o bater de asas de uma borboleta no Japão possa criar um terremoto no Brasil - e cada pequena escolha, cada pequeno jogar-se ou recolher-se possa sempre fazer alguma diferença. E é por isso que me exponho aqui hoje, como uma maneira de dirimir, de dissipar, de desgastar. Não temo mais a exposição. A única coisa que ainda temo é a possibilidade de ter estado certa - aquela vez, a última chance? 

domingo, 20 de maio de 2012

Eu evito as lutas do UFC, as artes marciais, o boxe, o MMA, o kung fu, os kimonos, o jiu-jitsu, as corridas, as grifes disso tudo. Evito as contas de física, a acupuntura, os canudinhos de chocolate, as batatas smile e a Granja Vianna. Evito os cavalos, Seabiscuit, os filmes com cavalos, os jóqueis, as hípicas, os pet shops, os golden, até a ferradura na porta de casa. Eu evito também as músicas do Oswaldo Montenegro e as cartas para Julieta. Só não evito as borboletas...


"A minha vida continua, mas é certo que eu seria sempre sua"



domingo, 13 de maio de 2012

A companheira - parte II


Deitava no sofá com um dos braços sob a cabeça; o outro empunhava uma revista. O corpo atlético estirado ao longo do sofá; os olhos fitavam calmamente a matéria, até que sentiu uma fisgada, dessas que passam logo. E passou mesmo. Mas veio a anunciar que já nao tinha mais concentração para continuar a leitura. Insistia nas letras. Olhava as palavras. Não enxergava mais o sentido entre elas. Fez novo esforço. Decidiu que leria até o final.

Ele tentava afastá-la, sem sucesso. Apenas uma delas poderia ficar. Inquieto, remexia-se. Perdia as linhas, retomava, ia e voltava. A moça aproximou-se. Recostou à beira do sofá, tentando ganhar atenção. Ele então, resolveu que não cederia a nenhuma das duas naquele momento. Fixou-se firmemente na leitura. Fincou o olhar na manchete, com certa dureza e indiferença. Quando encontrou-se novamente sozinho, largou a leitura de lado e sentou; apoiou os cotovelos nas coxas e esfregou o rosto, como se quisesse despertar.


Decidiria que honraria sua escolha. Não daria mais espaço àquela enxerida. Sabia o que queria. Retomou a rotina, a leitura, o hábito de tomar café com leite, de comer sonho e de pensar que não há mal na vida ser sempre a mesma; mesmo que assim não sentisse. Retomou o apreço pela mesmice, pelo fato consumado, pelo inquestionável. Mas não durou muito: antes do final da semana, sentiu a agulhada de novo. Debaixo d'água, entregue ao relaxamento do banho, sentiu que ela se aproximava. E que não consegueria detê-la. Era fatal. Sim, sabia que sua arrebatadora chegada - e permanência - seria fatal para alguém. A dúvida tornara-se sua mais fiel companheira...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A companheira


Depois de fazer exercícios, decidiu caminhar de volta para casa. Caminhava lentamente para que o corpo se acalmasse. A mochila preta e vermelha pendia no ombro direito; os cabelos, que já precisavam de aparo, começavam a ficar levemente molhados por causa  da garoa fina. Não tinha pressa de chegar. Tentava afastar a ideia, recusava-lhe a atenção, certo de que se esvairia dentro de alguns instantes. E, conforme previa, se esvaía. Ele dava-se como o vencedor, sem considerar que o ciclo retomava-se a cada oportunidade, entremeava cada pensamento.

Temia ter de reconhecer o questionamento. Temia o momento em que não conseguisse mais domá-lo, temia aquela hora em que o axioma invade, toma conta da conta e se instala na alma, como o mais devastador tsunami. Dali, sabia que não haveria volta. Por isso, evitava dar asas ao raciocínio. Sabia que podia ser custoso. Começou a correr; gostava disso. E gostava da distração que o movimento lhe causava. Uma gota escorria da franja e pingara no rosto, à porta de casa.

Entrou, jogou a mochila no chão e prosseguiu. Viu pelas costas aquela que o esperava; ela virou-se e gritou de felicidade. Ele fez um sorriso. Ela exclamou novamente em voz alta. A dúvida alfinetou com força. Já era tarde, não conseguiria contê-la. Fez outro sorriso e subiu as escadas. Calou-se, na certeza de que amanhã seria um novo dia. Sempre esperava o novo dia, depois da noite que tudo dissolvia. Por dentro, tudo emudeceu.

(continua)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quanta saudade
E que toda a saudade
Morra

Com todos os planos
Com todo o futuro
Junto ao amor que reprimi
E ao carinho (que possa ter) represado

E tudo o que quis
Se vá em cinzas, num dia nublado
À mais leve
E insignificante brisa
que o vento soprar.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nada aquém

Aparentemente mais redonda que o normal, subitamente mais iluminada que o usual. Esbranquiçando a negra imensidão ao redor, a imperatriz da noite parecia clarear o céu anoitecido. Estava decidido: tinha de compartilhar a cena.

Na tela, uma sequência de círculos amarelados seguiam-se em fileira. Não sabia mais quem era a Lua. Todos tinham a mesma cor, o mesmo formato, a mesma distância. Não conseguia mais distinguir as ranhuras da superfície - nas noites de verão, com um pouco de sorte, posso vê-las quase como um véu de renda encobrindo o rosto da noiva. Na figura achatada, sumiu-se a residência de São Jorge entre as luminárias das malucas noites paulistanas.

A imagem registrada não tinha o menor sabor. A olho nu, podia deliciar-me com a claridade e com a surpresa daquilo que está sempre ali, suplicando por apreço. Mas não era o que dizia a fotografia; alguns retratossó podem ser vistos com o olhar da alma...

E há quem prefira enxergar luas nas luminárias e aqueles que vêem triviais luminárias na lua. Não gosto das mesmices, não gosto de mais do mesmo, não gosto das repetições. Gosto do que tem forma, gosto do autêntico, gosto das cores. Sou daquelas que enxerga poesia na florzinha perdida no muro, na borboleta que por engano entrou no quarto. Sou daquelas que prefere sentir o invisível a me entregar à crueza dos tiranos. O monocromático e o uniforme me desagradam; eu quero mesmo é ver o explodir de todas as nuances e o transcender de todas as formas...



"Eu sou metal; raio, relâmpago e trovão (...) Não me entrego sem lutar/Tenho ainda coração/Não aprendi a me render/que caia o inimigo então"





quarta-feira, 14 de março de 2012

O que faz você feliz?



A gente é feliz num segundo, num piscar de olhos, num semáforo, num aperto de mão. A gente é feliz num sabor, num sopro, numa lembrança, num suspiro, num desabafo, num sorriso desmedido, num levantar a cabeça e perceber o sol no meio de um dia de trabalho.


A gente é feliz no vacilo no meio de uma briga, numa bela coincidência, no observar o cãozinho que faz estripulia, em notar a cara de bobo do outro. A gente é feliz naquilo que a gente cria, naquilo que a gente escolhe notar. 


E hoje eu fui feliz estendendo meu passeio, gastando gasolina e cantando no carro; fui feliz perdendo meia hora a mais do meu tempo, que insisto em achar que vale  dinheiro, quando a felicidade é a coisa mais efêmera e intangível...


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Porque a vida é impermanência

A vida é movimento, é energia, é barulho, é vibração. É um eterno-enquanto-dure desconstruir e reconstruir, fazer, modelar, lapidar, aperfeiçoar, refazer, melhorar, difundir, progredir. A vida não é estagnação, não é fim, não é comodismo, não é conformismo. Não é letargia, não é inércia, não é paralisia, não é indisposição.Não é o último suspiro, não é o "ficar à mercê", não é o esperar; embora havemos de respeitar suas pausas...

Do contrário, a vida é feita de recomeços, de átomos em constante ebulição, de intermináveis desorganições, desconstruções e ruídos - é deles que são feitas as reconstruções, as inovações e o evoluir-se, mesmo que sejam penosas as desordens. A vida não é linha reta, não é covardia paralisante, não é tela de cinema. Ela é curva, é coragem apesar do medo, é buscar equilíbrio em meio ao caos e, mesmo assim, procurar lidar da melhor forma com o tumulto criativo. Não é remar contra a maré, muito menos deixar-se levar pelas ondas; mas buscar usar a força das águas e aproveitar o impulso.


Porque a vida é impermanência, é delusão, é incerteza, é transbordar-se. É o novo por excelência, o vento das mudanças e as infinitas possibilidades.

Bem-vinda, novidade!
2012 começou - e antes do carnval. 

"A vida termina onde começa a sua zona de conforto"





quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O porta-brincos

Colocava os brincos de volta no porta-brincos, lado a lado, observava a harmonia entre os pares novos e as cores. Quase pude ouvir você dizer: "Quantos brincos e pingentes você tem?"
Quis censurar-me por um momento, mas larguei o sorriso no rosto. Afinal, é gostoso lembrar mesmo assim...
Pus-me a organizar os brincos com minúcia; vai que ainda queira vê-los....

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Reality Changer - Minha Retrô

Descobri tardiamente a família Narvaez, assim como boa parte de vocês também o fará depois deste post. Há duas semanas, recebi um link de minha chefe, Alexa e o pai cantavam Feliz Navidad. Fato é que me encantei com o trio, Alexa, Jorge e Eliana, a caçula. Desde então, vejo cada video, aguardo com ansiedade cada atualização, repito as canções incessantemente e quero compartilhar com todos os links que me causam sorrisos emocionados. Eles estão me acompanhando, iluminando os últimos dias de um ano difícil. As gargalhadas de Eli, a voz de Alexa e a boa vontade do pai artista.

A companhia do trio me faz não querer remexer nos últimos doze meses que se passaram; me faz apenas ter a vontade de estar vivendo tudo aquilo, de compartilhar das brincadeiras e das músicas; transmite a esperança de tudo pode ser revisto, recosntruído, reinventado. 2011 foi um ano extremamente difícil, talvez o mais duro de todos os 28 que tenho a contar. Por outro lado, não titubeio em dizer que este foi o período em que mais aprendi, em que mais dei a cara a tapa, espcialmente no semestre final. A sensação que me fica é outra: não sei se 2011 começou tardiamente ou se terminou muito antes.

Hoje, me sinto muito mais mulher do que há 365 dias. Passei por poucas e boas, situações que não imaginava, situações que não esperava, situações que nem cogitava. Fui muito magoada, passei muito nervoso e preocupação. Mas fui muito recompensada também; busquei a força de algum canto qualquer da alma até que pudesse reluzir e me botar pra frente. O saldo - há um saldo grande, apesar dos arranhões e ferimentos - é grande. Tive de buscar muita novidade, colocar em prática o que parecia longe, encarar e resolver o que era distante. Tive de criar novos caminhos e tive que virar a mesa, por mim. Resgatei minha essência que, confesso, havia deixado de lado nos meses finais de 2010 e nos primeiros bimestres de 2011. Sinto a energia correndo nas veias como sempre Pamela Forti, mesmo que ainda acompanhado de alguma incerteza - coisa de seres humanos...

Por todas as vezes que me fiz de durona, este ano chorei muito. Talvez tenha batido meu próprio recorde, tantas foram as vezes que engoli as lágrimas outrora e segui ignorando minha alma afogada. E me permiti chorar tanto quanto necessário. E aprendi a fazê-las cessarem também. Chorei de tristeza, de desassossego, de desespero, de preocupação e de solitude. Não posso reclamar de solidão, tantos são os valiosos amigos que tenho e que estão aí pra tudo. Pra fazer revezamento todas as noites para não te deixar sozinha, para ir falando contigo ao telefone no caminho para o hospital, pra fazer cessas as noites de Netflix.

Dificuldades profissionais, três mudanças de chefia e de rumo, muita apreensão e questionamentos, até que tudo pudesse estar de volta com eixo, com novas perpectivas, reconfortada e revigorada.
Questões pessoais, grande decepção, saúde, família, meu novo papel no meio disso tudo, novidade nem sempre agradáveis. Mas tudo acaba bem; há sempre de acabar bem.

Meu grande erro - se é que houve um grande erro - foi ter começado o ano entregue. Comecei o ano cansada de tentar, das lutas. Comecei o ano com um ar que não era meu. Passei boa parte do ano calada. "Só pode ser uma fase, ainda mais se tratando de você", disse uma amiga das antigas.  Recuperei o fôlego no final do ano: voltei para a Wise Up, onde conheci pessoas lindas que me cativaram demais; entre alunos e equipe. E toda aquela troca me revigora. Troquei um por outro, fiquei meses sem dançar. E a essência a gente não deixa de lado. Ela está me cobrando, pronta para explodir já na segunda semana de 2012.

O ano se encerra na companhia de uma família que, depois de despedeçada, ressurgiu por meio da arte.  E que se auto-denominam "Reality Changers" -  Transformadores da realidade, em tradução livre. E não importa o quanto tenham sido sofrido, desde que tudo tenha sido um empurrão, um motivo para as gargalhadas de Eliana e a voz de Alexa, que ecoam por aí , me fazem abrir um sorrisão no rosto todas as noites e ver um tremendo arco-íris de otimismo e esperança!

Um 2012 tão explosivo e colorido quanto o meu!

** Alexa and Jorge Narvaez - Wake me up when September ends
** Eliana Narvaez - Blueberries/Boli Song

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Acho que posso dizer

Acho que hoje posso dizer, sem pudor, que cansei de procurar o "amor da minha vida". Creio que possa admitir que ele se perdeu de mim; que eu o perdi, ou que eu me perdi dele. Posso pensar que ele nunca vá encontrar o caminho de volta ou que talvez nunca tenha encontrado o de vinda. Posso admitir que ele se foi, que nunca veio, que não virá. Que talvez não saiba chegar ou que fique escondido para sempre. Posso aceitar que passou, que não chegou. Posso confessar que dá pra viver sem isso sim, muito embora não quisesse.
Perdoem aqueles que continuam torcendo pela protagonista de novela, mas talvez ela tenha desistido do último capítulo. Pode até parecer triste, dolorido; mas é muito menos doloroso do que continuar buscando...

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Entrelinhas

Num dia desses, meses atrás, entrei no elevador e, no andar seguinte, ganhei a companhia de um senhor de cabelos e cavanhaque grisalhos, o qual já visto ali pelo prédio. Enquanto eu mantinha o olhar fixo entre o assoalho e as paredes do elevador, ele me disse: "Você está com uma cara de arrependida..." Levantei os olhos. "É, talvez eu esteja arrependida..." Plim. Hora de descer. "É, mas valeu pelo arrependimento,né?", completou quase em tom deboche, e saltou. Quanto a mim, sorri com a (sim) empatia do homem. Sorri e desisti de arrepender-me...

Lembro-me também do taxista carioca que me perguntava sobre a 25 de março e os lugares que o Datena mostrava no noticiário. Me falou sobre a violência, o tráfico, o turismo, me mostrou a Lagoa, falou sobre casamento, idas e vindas. Duas horas e meia depois, saltei no Galeão. Paguei a corrida. "Obrigada pela companhia, moça!", exclamou. Até hoje me pergunto quem fez compahia a quem, naquela viagem bela e solitária...

E no toalete do teatro, a garotinha me pergunta: "Você faz escova?" - "Às vezes eu faço", respondi. "Eu queria fazer escova um dia", retrucou, do "alto" dos seus cinco, seis anos. "Você tem nosso CD?", respondi negativamente. Ela e as amiguinhas faziam parte do coral do orfanato, que cantaria com Toquinho. Me dispus a passar  batom em todas - já que não podia arrumar-lhes o cabelo. No final do show, um rapaizinho toca meu ombro, com um CD em mãos. "Mandaram entregar pra você. - "Pra mim? Quanto é?" - "Não, é um presente". Nunca mais ouvi Aquarela da mesma maneira.


Porque a vida acontece nas entrelinhas, naqueles momentos em que ela te pega desprevenida, num dia já dado por encerrado, naquele subestimado instante de letargia...
 Que em 2012 possamos ler e sentir as entrelinhas, onde a verdadeira mágica da vida acontece...


"Somento quando se percebe o invisível, é que se pode alcançar o impossível"
Maurício Louzada

Um bom Natal e lindo 2012!!!

Beijos enormes,
Pamela



segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Antologia

  • Aprendizado do final de semana: A razão nunca vai controlar a emoção. Razão é razão, emoçao é emoção. Não misture alho com bugalho.
  • Aprendizado da quinzena: Faça o que te faz bem e sentir-se bem. E ponto. E não faça o que não te faz sentir bem. E ponto de novo.
  • Aprendizado do mês: Devo ser mais flexível comigo mesma. Afinal, eu crio minhas próprias "burocracias".
  • Aprendizado dos últimos 45 dias: Vale a pena. 
  • Aprendizado do bimestre: Eu adoro minha companhia e nunca estou sozinha. Fato.
  • Aprendizado do trimestre: Apenas faça. O que tem pra hoje?
  • Aprendizado do quadrimestre: Não se reprima.
  • Aprendizado do semestre: Isso passa.
  • .Aprendizado dos últimos 9 meses: Jogue mais luz no que de bom acontece.
  • Aprendizado do último ano: Faz parte do (meu) show. Mesmo que o número não tenha um grand finale.


"A arte de viver é aprender no dia-a-dia"




domingo, 4 de dezembro de 2011

Máscara de ferro e luva de pelica

Para quem usa máscara de ferro, um tapa na cara com luva de pelica arde como queimar o dedo com ferro de passar: dói, dói, dói e demora a cessar. Mesmo que o machucado seja superficial.

Sempre me perguntei porque aqueles que parecem mais altivos são, muitas vezes, os que sustentam castelos de areia.  Aquelas pessoas que fazem questão de intimidar, o fazem por medo; sim, é um fato. Não o fazem por poder, por capacidade. Os mais seguros de si são os que sabem que podem baixar a guarda, pois nada têm a temer. Permanece com o dedo em riste, com a arma em punho, com a flecha apontada quem carece de recursos e temem que algum "lobo" sopre sobre a casinha de sapê. E ataca para evitar ser atacado; fecha-se para nao correr risco. O medo da própria vulnerabilidade acaba por afastar pessoas e situações interessantes; desperdiça uma série de aprendizados e descarta aliados. Ignora o que há de mais humano em si e nos outros. Prende o choro e agua as emoções....




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Hoje eu queria

Hoje eu queria

Largar-me
Jogar-me
Relaxar
Atirar-me
Soltar-me
Deixar-me
Cair
Lançar-me
Liberar-me
Desfalecer
Pular
Arremessar-me
Saltar
Abandonar-me
Permanecer
Continuar
Ficar
Esmorecer
Adormecer
Pender
Acalmar-me
Paralisar-me
Descansar
Caber
Encaixar-me
Repousar
Recostar-me
Esconder-me
Amparar-me
Estar
Resignar-me
Esperar

Nos teus braços. 





quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Adoro Joaninhas. Uma delas pousou em mim, agora há pouco; era preta de bolinhas brancas e alaranjadas. Pegou carona até a Praça da República, onde deve ter ido encontrar as companheiras de espalhar cor e sorrisos por aí.
Teimo em achar que joaninhas prenunciam sorte.

domingo, 23 de outubro de 2011

Uma escolha é sempre duas

Tudo contém em si também o seu contrário, segundo a teoria da dicotomia. Dentro de um "sim" há sempre um "não". Cada escolha contém um universo de possibilidades - e de perdas, de senões, de poréns. Há muito o que escolher na vida, mas há muito o que se deixar escolher também. É esta eterna dicotomia que bate à porta anos depois, com a conta na mão, como um post-it fluorescente que não deixa esquecer da opção feita no passado. Que se aproxima travestida de dúvida, de curiosidade, de um mau humor súbito e um desânimo sem explicação. É um inexplicável sonho na madrugada, a lembrança no meio de um dia de trabalho, o cheiro que faz arrepiar a espinha. Elas vêm pra lembrar de um amor mal-resolvido, da esperança deixada pra trás, da falta de coragem daquele dia ou da vontade reprimida.

Há muito o que se escolher nesta vida, mas há muito também que deixar-se ser escolhido. Sussura no ouvido, vez ou outra, a possibilidade negada e a impossibilidade de ver o que não aconteceu. Escolhes com os elementos que te circundam no instante da decisão. Mas já não serás o mesmo que vai refletir sobre ela pouco depois... É aquela voz que fala somente à alma, que não faz ruído algum. Mas que ecoa, ecoa, ecoa...

domingo, 16 de outubro de 2011

Um dia a mais

Ela viva assim. Parecia sempre tranquila enquanto rusheava pela cidade. Corria de um lado para o outro. Deixar a peteca cair não era algo que se aplicava a ela. Muito pelo contrário. Jogava-se no chão para segurá-la, tal como um jogador de vôlei esfola os joelhos para impedir o ponto do adversário. Ia caminhando pelo corredores e fazendo o tec-tec dos sapatos de salto médio; precisava de praticidade, mas de alguma altivez, que mantinha sempre com a peteca na mão.

Ia e voltava mais de três vezes ao dia; mantinha os pensamentos meticulosamente organizados mesmo quando parecia que ia perdê-los de vista. Alguns invejavam e outros criticavam a aura de infalibilidade. Encontrava energia quando as pernas bambeavam e não podia falhar com o próprio sono! Mas mantinha sempre-se centrada, em meio à correria, que não lhe fazia mal. Em meio aos horários, observava os carros na ponte e sentia a plenitude de fazer parte daquilo; no fim do dia, sentia-se parte do silêncio da cidade. E contemplava. Aproveitava tudo aquilo com devoção. Mesmo que houvessem dias cinzentos, sabia que eles não eram a maioria.

Naquele dia, foi. Foi novamente. Fez. Depois fez outra coisa. Fez de novo. Ligou. Desligou. Sabia exatamente o que fazer e como fazer. Escolheu os melhores brigadeiros. Sentia o sol queimar a pele com deleite, enquanto entrava no carro novamente, em busca de mais um destino. Fez uma série de escolhas, assumiu mais uma dúzia de afazeres. Gostava de olhar-se no espelho, impecável. Sorria para o carro ao lado, enquanto rumava ao supermercado, à padaria, à lavanderia, à perfumaria. Chegara em casa tarde da noite, quando o silêncio já reinava novamente. Sentara aliviada, mas já não sabia mais o que fazer. Naquela noite, quieta no sofá, envolta pela noite quente e linda, ela percebeu. Passava os dias afogando-se em compromissos que a entorpeciam, tentando fugir da imagem que não estava na moldura, mas que continuava ali, sentada no sofá...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Feedback in me

Eu ODEIO o dia do feedback. Especialmente quando estou à frente de turmas que me cativam. Sim, porque eu sou uma dessas pessoas que se apegam - às coisas, às pessoas, aos lugares. Sim, eu sou uma dessas pessoas que acredita que a vida é mais do que um eterno vai-e-vem, sou uma dessas pessoas que valorizam cada olhar pela janela, cada soprinho e cada suspiro da vida e de vida. Que admira todos os acasos, detalhes e pormenores; que enxerga poesia ali na esquina...

E, mesmo em apenas dois meses - contra os seis de cursos regulares - eu consigo sair da escola como se tivesse deixado 18 filhos para trás. Ali da frente, a gente olha fundo nos olhos de cada um para tentar entender as angústias e dificuldades; tenta ser um pouco psicóloga, um pouco sargento, um pouco instrutora. E, muitas vezes, acaba se identificando, ganhando sorrisos, simpatias e algumas amizades. E é bela essa mágica da vida: uma grande perda pode ser revertida em 18 novas histórias e multiplicar aquilo que você havia esquecido dentro de si...

O corredor completamente vazio no fim do dia do feedback me faz querer preenchê-lo com palavras, com pão-de-mel, com uma ducha quentinha. Mas este é o tipo de vazio que não signfica ausência, mas que algo já foi devidamente preenchido.

domingo, 2 de outubro de 2011

Sobre cultivar e cativar

A gente cultiva de propósito, mas cativa sem querer. A gente cultiva aquilo que quer ver crescer e cativa pela força da vida e das afinidades. Me cativam o aspirante a monge, os alunos que me olham profundamente nos olhos e as crianças que pedem para segurar minha mão. E faço questão de cultivar tudo aquilo que me cativa; porque qualquer elo exige dedicação ou ele se perderá. Resgatá-lo é sempre mais difícil, exige uma dose extra de aragem. E de sorte.
A gente cativa e deixa-se cativar à medida que nos tornamos seres humanos melhores, à medida que estamos receptivos e deixamos fluir nossa essência; à medida que conseguimos a conexão com o que há de essencial no outro, enquanto seres humanos. E o cultivo é um trabalho árduo, mas gratificante, que requer investimento, paciência e ternura.
O que faz morrer uma coisa e outra, muitas vezes, é a artificialidade imposta pelas organizações e pelo excesso, pela aritificialidade que se impõe nos processos da vida de hoje e pela efemeridade das relações, pelo esvaziamento das relações humanas, que eu vejo agravar-se com o passar dos anos, presente da destituição das famílias, da falta de disposição para resgatar laços familiares, na preferência dos colegas de balada aos amigos de infância e na escolha de amores devastadoramente úteis e pré-datados. Meu querido leitor, meu querido companheiro, se gasto precisos minutos de minha vida escrevendo isso é com a sincera intenção de cativar-te e cultivar-te...

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Os bolinhos, a faca e a chuva

Ela vinha com aquela faca pontiaguda e apontava para a minha testa. Nos meu cinco, seis anos, eu suava frio. Pensava o que queria aquela mulher, porque ela me apontava uma faca??? O que eu teria feito?? Passava tão pertinho que eu tinha a certeza que ela ia me machucar. Mas sempre errava o alvo. E sussurava coisas que eu não podia distinguir. Minha espinha dorsal se encolhia cada vez que eu via aquela mulher. E ela usava muita água. Lavava a faca, colocava um bocado num potinho. E voltava com a faca; aquele cabo de madeira da Tramontina, a ponta reluzente e encharcada de água. Em alguns momentos, eu era capaz de sentir minha testa furar.

Estive lá muitas vezes, em companhia da minha avó. Chegava na porta daquela casa de muro amarelo e muitas plantas na porta e já começava a ter calafrios. Subia a longa escada, também envolta em plantas, e me colocavam sentada num banquinho, ao lado do tanque. Chegando em casa, minha avó - que era cozinheira de mão cheia -  me fazia bolinhos de chuva. Colocava-os numa tigelinha e me dava um banquinho na mão. Punha-me a sentar atrás da porta da cozinha, que dava para a área de serviço do apartamento. Também não sabia o por que eu tinha que ficar escondidinha. Será que mais alguém queria meus bolinhos? Eram gostosos, como tudo o que ela fazia. O fato é que eu simplesmente obedecia. Só não aguentava comer todos de uma vez.

E ainda voltei lá muitas vezes. Com o passar do tempo, pedia para me levar lá. Com os anos, passei a compreender e entender que havia algum sentido invisível naquilo tudo. E lembro-me até do dia em que a filha dela me perguntou: "Você vai prestar vestibular para quê?" "Jornalismo", respondi, sem saber a razào da pergunta. Ela ficou calada por alguns minutinhos. "Você vai ter uma carreira brilhante, minha intuição não falha", respondeu. A dona Carola faleceu. A filha herdou o dom ou o ofício da benzeção. Lamento ter esquecido onde ficava a casa delas. Mas não há medo que resista quando me lembro dos açucarados bolinhos de chuva...

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que há com a auto-ajuda?

Ouço com frequência um certo desdém, um certo preconceito com a literatura de auto-ajuda, vinda principalmente de um grupo que se julga um tanto intelectual demais para ceder a essas "bobagens", ou talvez um tanto "bem-resolvido demais" para admitir que, em sua natureza humana, todos precisam de um auxílio vez ou outra e que são todos um bando de mal-acabados; o "resolver-se" está sempre no meio do caminho...

Talvez, o grande preconceito esteja exatamente aí: em admitir as próprias mazelas, o próprio sofrimento, o medo de dar vazão àquilo que tanto se tenta deixar debaixo do tapete. Daquilo que nos faz humanos e desfaz os heróis - é o amor pela Mary Jane que faz Spider Man vacilar. E andar com um livro debaixo do braço, cuja capa faz denunciar sua sensibilidade não é coisa para gaúchos, tampouco para marxistas; perdoem-me os estereótipos.

Penso que, se nos submetêssemos mais a este tipo de leitura, de exposição a nós mesmos, teríamos menos preconceitos e menos barreiras na sociedade. Entender a si mesmo é a chave para uma convivência mais harmônica. Mas é justamente a resistência de uma (grande) parcela, que prefere não enxergar problemas em si mesmo, que prefere não admitir suas imperfeições e a falta de coragem para se deparar com elas e corrigí-las, que mantém petrificados alguns pensamentos. Que perpetua os nós nas relações, que ergue barreira e que não enxerga a vida em sua unidade...

By now

E eu quero todas as boas vibrações, todos os bons fluidos, todos os amores e todas as possibilidades... 
E quero também todas as jujubas que colorem e adoçam essa vida, as músicas velhas do Take That e a chuva rápida junto com o Sol, só pra terminar num arco-íris...
 
 

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A primeira-feira

Segunda-feira é sempre a primeira-feira; sim, porque todo mundo só "começa", só dá a partida em si mesmo neste dia; domingo é o dia mais delicioso; o ano podia ser feito somente de "últimas-feiras"....
Além do que Garfield costumava preconizar - a melancolia e a preguicite de uma segunda-primeira-feira, a segunda guarda uma série de outras coisas dentro do seu simbolismo. É sempre um pequeno novo ciclo a se renovar ou a anunciar que a vida e a rotina permanecem exatamente as mesmas....

E esta primeira-segunda-feira é uma última primeira-feira de ansiedades; ela começa anunciando mudanças, ou, ao menos, esperando por elas. É como a largada de uma corrida que se finda ali, no sábado. Renovam-se os planos, refazem-se as esperanças e os objetivos. Mas o que é mais aparente - e a maioria não se dá conta - é que é apenas na terceira-feira (a terça) que algo passa realmente a acontecer. Quantos planos você executou numa segunda? Desafio-te a comparar com as outras-feiras... Segunda (ou primeira) é o dia das doses homeopáticas, da procastinação e da marcha lenta, afinal, ainda há outros quatro dias para se resolver a vida... Aliás, quem falou que a vida está aí pra ser resolvida? Nós é que nos desafiamos a sermos resolvidos, a todo o momento...