sábado, 16 de fevereiro de 2013

Chuvas de verão - capítulo 1

Ela continuava, mesmo sob a garoa. O dia era quente, mas as pequenas agulhadas a incomodavam. Seguia mesmo assim. Sabia que era transitório, assim como as agulhadas mais fortes que sentia todos os dias. Esforçava-se para suportá-las hora após hora, enquanto perguntava-se quais seriam os limites daquela situação. Qual seria seu próprio limite. Até quando conseguiria sustentar uma situação daquelas?

Tinha decidido suportar. Possuía poucas ferramentas para isso, mas o que ajudava, de fato, na desgastante tarefa, era ver aquele rosto. Em meio às alfinetadas, vê-lo, mesmo que ao longe, trazia-lhe a serenidade de volta, por alguns instantes. Dava-lhe fôlego para continuar por mais um dia. E quando cada minuto parecia eterno, escolhia olhar pela janela, sentir o ar fresco e procurar pelos belos traços que acalmavam-lhe a alma. Era quase um desconhecido que devolvia a ela a mania de acreditar, a cada vez que sorria para a moça.

Naquela época, não importava quem ele fosse, como era sua personalidade e seu caráter. Desejava apenas que estivesse sempre ali, dando alguma ordem e algum sentido ao mar revolto. Sua presença acenava com a força psicológica da qual precisava. Não sabia se de fato era notada. Talvez fosse arriscado demais saber. E tinha pouco a arriscar agora. Bastava o sorriso.