quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Fragmentos de um pragmático 2012

Essa não vai ser uma antologia emocionada nem uma tocante retrospectiva do ano como foi a desabafante de 2011. O ano foi mais leve? Não creio; nem menos emocionado. 2012 teve muita crueza, muito esforço, muita superação. Muitas lágrimas não derrubadas, muitos daqueles momentos em que se mantém de pé, sorrindo, por uma simples decisão de não fraquejar.

2012 foi fragmentado. Para uma dessas pessoas que criam raízes, como eu sou, trocar de emprego três vezes soa como mácula - mesmo que as trocas tenham sido sempre pra melhor e mesmo que a "troca" esteja "na moda". Mas fazê-las exigiu de mim muito esforço, muita coragem psíquica, revisão e reavaliação dos meus conceitos e longas brigas morais comigo mesma. Pode parecer bobagem, mas o stress me rendeu uma inédita dor no ciático - ok, eu tenho 29. Mas o que mexia comigo mesmo era a natureza das trocas, praticamente duas trocas de "profissão". Soava para meus ouvidos como jogar a tolhar, abrir mão do que eu tinha construído e viver em eterna nostalgia, para, quatro meses atrás, ver resgatado tudo o que achei que poderia estar perdido.

Apesar do stress interno - vocês nao imaginam a canseira e a trabalheira que cada troca de rumos dá numa pessoa. Os neurônios ficam em polvorosa, as emoções oscilantes feito o clima de SP - aprendi DEMAIS. Aprendi a aceitar. Conheci o mundo corporativo. Conheci gente brilhante; conheci gente interessante e conheci o que há de pior no ser humano - intencional ou inconscientemente. Acredite, se você vive exclusivamente numa redação e acha que vê muito do mundo por conta das matérias que faz, você está profundamente enganado. Pare de criticar o capitalismo selvagem, tenha coragem de botar em xeque suas próprias ideologias. É menos piegas, dá mais trabalho, mas pode iluminar mais o seu caminho. Todo mundo tem uma certeza e uma verdade; o mundo é mais cruel e mais cru, menos utópico. 2012 foi o ano do pragmatismo, em contraponto a uma Pamela sempre com a cabeça nas nuvens e pé no chão.

Se há algo de maior a extrair  de cada "parto", foi o contato com as pessoas. Para muito além da natureza de cada atividade, o que a gente aprende mesmo está na troca com as pessoas (reparam quantas vezes a palavra "troca"? Não é má redação, só uma figura de linguagem).  É no convívio com elas que você aprende a se defender, a se posicionar, a chorar-para-mamar, a não ser molenga, mas a manter sempre, sempre mesmo a ternura, o lado humano. Por mais dura que possa parecer a situação. Como já disse, todo mundo tem uma verdade e um sentimento a ser considerado.

Dos 361 dias que passaram, formo algumas imagens no inconsciente: um band-aid numa ferida curada, alguns rostos. Trouxe grandes amigos dessa aventura, como os quatro que deveria ter encontrado hoje (sorry guys, still love you! S2), o ex-chefe, mas sempre e mentor e amigo; a colega de trabalho promovida a amizade anywhere-anytime, a ex-parceria de mesa e noiva do ano de 2013. E aqueles que entraram na minha vida recentemente: sinto que a Padrão ainda tem muito o que mostrar. Fiz muitas parcerias em  2012.

De 2011 para 2012, ficou a mesma certeza, embebida em enredo diferente: o mais importante (e interessante!) é quem a gente conhece no meio desse caminho desconhecido....






Time
Don't let it slip away
Raise yo' drinkin' glass
Here's to yesterday



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Onde os fracos não têm vez



"Coragem! Vamos, Pamela, coragem, não desiste!"

Se tem algo que eu aprendi com a dança, foi a arte de superar as dificuldades e a superar-me; a conviver com a dor e a desafiá-la. A ter certa resignação perante a aflição física - e mental também, só quem dança sabe a quantas provas sua mente é submetida - e a acreditar, aceitar o fato de que era preciso encarar aquela dor para crescer. E encarar outras dores cada vez maiores e subsequentes para ter alongamento melhor, perna mais alta ou conseguir equilibrar-se. Não fosse o enfrentamento da própria angústia, o treino incessante e o recomeçar depois de cada pirueta espatifada no chão, não haveriam Ana Botafogo nem Mikail Baryshnikov.

Cada aula me ensinou (e ensina ainda) muita coisa que eu levo comigo no dia a dia: a atuar em conjunto, mas também a saber o meu papel individual no meio do todo. A esforçar-me, a esticar-me, a aguentar firme por dentro para não comprometer o conjunto da obra. Era responsabilidade de cada um, em cada coreografia, fazer com que ela saisse conforme o planejado. E fazia parte também sentir o braço doer porque a música falhou, continuar sorrindo depois do escorregão, o partner jogar-se embaixo da colega bailarina porque ela iria dar com o nariz no chão.

No entanto, na era da comunicação rápida-geração Y-obsolescência do novo, resistir parece fora de moda. Troca-se de emprego, de roupa, de marido, animal de estimação e tá tudo resolvido. Trocar é sempre mais fácil do que enfrentar; omitir-se é mais cômodo do que expôr-se. É mais fácil, mas talvez não seja o mais inteligente; o bordão diz que tudo nessa vida tem um preço.


You may say I'm a dreamer, mas eu não acredito em quem esmorece diante da adversidade, em que se melindra, em quem desacredita, em quem desiste. Porque não há nada na vida além disso. Não há garantias, não há certezas, não há plenitude. Quem espera que a vida seja feita de ilusão... 

Ninguém disse que seria fácil, ninguém disse que essa aventura tinha um capítulo só. E que não seja mesmo; o que faz o coração pulsar, a espinha arrepiar é exatamente o desafio. A grandeza de espírito está em saber que os obstáculos são muitos, que os resultados nem sempre são imediatos ou perfeitos, mas que, para sobreviver é preciso resistir. E para chegar, é preciso insistir. É preciso ter coragem. É preciso ter RAÇA. Os fracos não têm vez. Em todos os aspectos.


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A frase lá em cima foi dita, incontáveis vezes, por um grande mestre, o coreógrafo Edy Wilson. Ele me ensinou a não desistir depois de cada bronca; que, por mais demorados que fossem, os ganhos viriam. "É quando eu te corrijo, quando eu brigo com você que eu quero ver você me provar que você pode. Não vai adiantar querer se esconder. Tem que ter RAÇA  pra encarar isso aqui". 

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Às vezes ainda me pego pensando na mesma coisa. Há um ano o castelo - que era de areia - desmoronou. Desde então, muita coisa mudou, dentro e fora de mim. Deixei de acreditar em castelos, em arco-íris, em algo além do horizonte. Não creio mais na magia, nem no intangível. Deixei de acreditar que há algo além do palpável, deixei de acreditar que há um significado oculto em tudo, que há uma aura inexprimível mas presente em tudo e todos.

Desejo não ser pragmática demais, mas esqueci a magia nalgum canto!!! Acho que a vida é em branco e preto; ou melhor, preto no branco. A gente que atribui cores demais. Talvez ela seja assim, puro delírio, pura ilusão - mágicos não existem, apenas ilusionistas. Afinal, é tudo carbono, indo e voltando no ciclo eterno e natural. Onde foi parar o neon, a trilha sonora, a brisa do fim de tarde? Onde eu os esqueci?

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Reflexões sobre o celular e a vida (sim, é isso mesmo!)

Saí para almoçar, como de costume, e me deparei com uma mocinha recostada no portão de um dos casarões antigos que circundam a empresa. Soluçava muito; tinha o rosto muito vermelho e empunhava um aparelho de telefone celular. "Você quer desligar", chorava ela, ainda mais alto e desesperadamente. Nessas horas, tenho certa vontade de parar e perguntar, acodir, dizer algo - maldita empatia que me faz pensar nos momentos que já quis que algum ser humano compreendesse minha dor quanto me sentia tão solitária. Mas felizmente a luz do bom senso sempre recai sobre mim e desisto da minha compaixão, para a alegria do meu lado sensato, que não quer ser chamado de intrometido tampouco de louco.

A imagem dos dois braços tatuados, aliados ao coturno preto, apesar do calor e da saia jeans, contrastavam fortemente com o frágil pranto a que ela se entregara. Saí dali refletindo que a chamada que recebera (ou fizera) teria interrompido seu dia. Interrompera o caminho, o dia, o trajeto, as próximas horas. Torci para que ela não estive indo para o trabalho; o prejuízo seria maior. Bons eram os tempos em que se podia esperar a hora de chegar em casa para ter uma briga ou receber uma má notícia; assim como eram bons os tempos em que se podia romper sem nunca mais ter notícia do ex-vínculo. Especulei sobre o uso da mochila que ela carregava. Que ela fosse ao cursinho, à faculdade, à escola; qualquer lugar onde os momentos que se seguiam fossem ligeiramente mais confortáveis.

A questão é que agora somos localizáveis, acessíveis, encontráveis o tempo todo, mesmo que não desejemos. Estar offline significa a perda de negócios, de relacionamentos, de amigos, de namoros, de informações - mesmo que não as mais importantes. Mas é essa mesma acessibilidade - ou a exigência por ela - que nos afasta, que nos descompõe, que desvaloriza o equilíbrio e a reflexão. Que reforça a impulsividade, a aparência e a impessoalidade. Que exige a presença mas que valoriza a ausência também. O fim da picada começou com o sexo por telefone (e depois cibernético) e termina na discussão: "Posso terminar meu namoro por email?"

É mais conveniente exigir a atenção do outro a todo momento, a todo lugar, sob qualquer circunstância do que lidar com a própria insegurança; assim como é mais fácil eximir-se da responsabilidade de olhar olhos nos olhos para dizer as incompatibilidades e as dores. E nada substitui o sentir, o intuir e o perceber. A linguagem corporal, o piscar dos olhos, o tom de voz, o toque. Evitar o fardo e o enfretamento, assim como dispensar a reflexão silenciosa.

E por que minha zanga recai sobre os aparelhos de telefone celular? Porque são os mais portáteis dos conectores e o mais online de todos, em todas as redes. Permanecem colados ao corpo, extensões de nós. Eu mesma já cometi a atrocidade de voltar para casa para buscá-lo - e mais de uma vez. Ele impera que encarnemos todos os papéis de uma vez só: somos, ao mesmo toque do celular, o profissional, o amante, o filho e o amigo. E é remota a chance de negar qualquer atuação.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou palhaço"


O gato bebe leite, o rato come queijo e eu sou... Jornalista!


Isso dito, fica claro: jornalista não é só uma questão de querer, é uma questão de ser. E não há muito como lutar contra a própria natureza, à inefável predestinação. É instinto que existe, que faz pensar em pautas em meio ao brigadeiro da tarde, no tombo do amigo e no singelo soprar do vento pela manhã. É muito mais uma questão de perfil, de não-explicar-se, de ser e nunca de estar. 

A gente é jornalista mesmo sendo professor de inglês, bailarina, faquir ou cozinheiro. É jornalista na cama, na ressaca, na desgraça, aos prantos e aos cantos. Em todos os cantos. Não é algo da qual se possa fugir. É como a maldição da Bela Adormecida - não adianta livrar-se dos teares, das agulhas, dos alfinetes. Você vai picar o dedo, a premonição se fará. Não há escolha real. 

E é por isso que eu ainda me disponho a pagar o preço, a pagar pra ver e a apostar naquilo que me faz brilhar os olhos... Não há nada mais que me faça suportar as dores de qualquer outro dia-a-dia, de subir as montar e saltar os obstáculos. Que me faça ver o Sol apesar-de-tudo. Por mais que eu tente, que eu me esquive, a alma vem cutucar: "Ei, mas e o jornalismo...?" Mergulho num texto e desapareço; fico imbuída de reportagem. E a satisfação de ver um texto pronto, redondinho. 

Dizem que a gente sempre tem uma escolha. E eu escolho ser feliz, deixar fluir, deixar viver. Sim, é uma profissão fascinante. E ignore quem ousar dizer o contrário. 


quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Tarde de maio


É assim, foi assim. Uma tarde de maio. 

Tarde de maio 

Carlos Drummond de Andrade


Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh’alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada te peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa...
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens.




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Em cada vez que preciso de um apoio;
Para cada história que eu tenho para contar;
Cada vez que meus olhos querem marejar; 
Nas vezes em que o cansaço é maior;
E naquelas que sinto que vou conquistar o mundo;
Em cada vez que eu quero dividir um segredo ou anunciar um plano;
Em cada momento delicado;
Nas horas tensas;
No dias em que o sol é mais bonito;
Ou quando a chuva cai insistentemente; 

Eu penso em você.
E decido que voltarás. 

domingo, 29 de julho de 2012

Miss Bricolagem


Hoje, recebi a missão de ir até a Leroy Merlin e comprar uma broca para a furadeira. Topei cumprir a tarefa atribuída por meu pai - que setorna sexagenário na próxima quarta-feira - e fui. A tarde ensolarada, do veranico que se instalou no dia de hoje deixou o trajeto mais agradável. Chegando lá, pus-me a passear pelos corredores, buscando um que tivesse a inscrição "ferramentas". Tamanha era a loja, que sentia como se estivesse caminhando quilômetros até encontrar a tal peça.

No trajeto, passei pelas peças de toalete e pelas maçanetes. Gastei um bom tempo observando cada uma delas. Pensava na minha futura casa; pensava que tinha vontade de comprar algumas daquelas peças e guardá-las, montar uma caixa "minha casa". Demovi-me da ideia, seria um tanto irracional. Os itens poderiam cair de moda, poderiam não combinar com a minha futura residência. Seria uma bobagem dispender meu dinheiro com isso agora.

Estava me divertindo ali solitária. Fui olhar as banheiras. Lembrei que eram frequentes as visitas em família à antiga "Madeirense" - a marca agora se junta a outros ícones como Mappin e Mesbla, que já se foram. Eu e minha irmã nos encantávamos com as banheiras. Entrávamos nelas, escolhíamos as redondas e pedíamos para o pai comprar uma (as redondas e mais bonitas nunca caberiam no nosso banheiro retangular, mas vá lá). Certa vez, ele chegou realmente a cogitar a possibilidade: trocar algumas peças sanitárias de lugar, desfazer-se do antigo bidê e teríamos espaço para uma banheira, das menores e retangulares. Claro que nem eu nem ela nos animamos em deixar de lado nosso sonho "redondo". Além do mais, as obras e os gastos não justificavam os benefícios. O único fato é que o bidê realmente deixar de existir dentro do cômodo...

Aqui em casa, sempre houve o hábito da bricolagem. Gastar o domingo fazendo pequenos reparos, melhorando um detalhe aqui e ali, dando um retoque. Nunca tivemos decorador, arquiteto, alguém que nos auxiliasse para isso; a não em caso de grandes serviços. Embora muita gente prefira ter um erstranho fazendo certos trabalhos, eu aprendi a ter satisfação pessoal em fazer isso. E não é simplesmente mera redução de custos, é ver a coisa acontecer, da maneira como eu quis. Me ver capaz, ver a coisa surgir. E de poder fazer sempre, a hora que eu bem quiser, sem depender de outro. Poder manter, sempre, as coisas nos conformes.

Pouca gente se dispõe a tal. Faz sujeira, dá trabalho, machuca as mãos e as unhas esmaltadas não duram. Para a maioria, é melhor passar o domingo no sítio, no restaurante, ou vendo o Faustão. Mas eu ainda acredito que isso é uma questão de valores: de cuidado com o seu espaço; e quem ama, cuida. Com o mesmo cuidado de um artesão.

Por fim, além das brocas, trouxe um jogo de espelhos (de tomada) para o meu quarto. Há meses os queria todos brancos. Terminei a tarde parafusando e desparafusando um por um. E arrastando alguns móveis para isso. Não tenho a minha casa ainda, mas vou ensaiando minha aqui dentro do meu espaço, do meu canto...

domingo, 15 de julho de 2012

E seu eu não quiser despertar? E se eu quiser viver criando o sonho quase real, vivendo a ilusão, compondo minha própria canção? E se eu quiser imaginar meu próprio videocliple, editar apenas com as partes mais bonitas e ter a trilha mais inspiradora? E seu quiser viver no meu parque de diversões holográfico, escolher as melhores lembranças e brincar com ela?
Quem vai me impedir?

domingo, 24 de junho de 2012

Aqueles braços

Eram perfeitos para me proteger. Chamaram tanto a minha atenção que não me lembro das ranhuras do rosto nem da camisa - como eu não me lembrava da camisa? Não me lembrava da sua camisa ou camiseta, muito menos do peito, área que costumeiramente atrairia meu olhar e sentidos. Só lembro dos seus braços - e pouco me lembro da parte em que se delineavam os belos músculos. O que admirei fora a "seção" que sustentava o relógio e os pelos claros.

Aqueles braços estavam prontos a puxar-me leve e bruscamente para perto, a transmitir-me a energia masculina da qual precisava. Eram os braços que evitariam minha queda e que me suspenderiam no ar; os braços me envolviam e os quais estaria sempre pronta a acariciar. Ah, aqueles braços! Esqueci de uma meia dúzia de palavras que possam ter me desagradado, mas não esqueço daqueles braços...


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nem um ano sequer


Achei um papel no meio do livro. Notei que continham letras manuscritas em tinta preta. Antes de abrir, torci para que fosse uma boa notícia, uma lembrança boa, um bom presságio escondido dentro das páginas que eu só abriria alguns meses depois. Era a feliz memória de uma confraternização entre amigos; um jogo inteligente e engraçado, típico daquelas pessoas que, ao acaso, gostavam de trabalhar e de estar juntas; fora há quase um semestre. E dei conta do tempo.

Um ano se passou desde aqueles dias e muita coisa mudou. Muita coisa continua mudando. Mudei praticamente tudo o que pretendia mudar - falta pouco. Eu não imagininava esse ano depois, eu não poderia imaginá-lo. Dentre as circunstâncias semelhantes, previa sempre as possibilidades boas e más - desta vez, só o positivo estava contemplado. Mudaram as situações, os locais que frequento, as pessoas ao redor, a rotina à qual me submeto, as formas que me rodeiam, os movimentos e caminhos que faço. Só as alfinetadas em meio a interrogações e flashes que ainda permanecem. Muito mais intermitentes sim, com facilidade para enxotá-las e até desprezá-las quando quero. E ainda surgiam no meio do clipe amargamente reconhecido, da frase rememorada. 

Eu tinha muito medo de que esse ano passasse. Sabia que seria muito, sabia que o tempo era inexorável, sabia que a situação seria realmente irremediável. Temia muito que isso acontecesse, mas não confiava que esse dia seria real; seria tudo da maneira mais cinza possível e eu só almejava o azul anil... E passou. Da maneira mais novelesca que poderia passar, com as lembranças a galope em meio a um turbilhão de grandes e pequenas mudanças dentro e fora de mim. Sou outra e sou a mesma. 

E não tenho mais medo de me expor aqui. Não tenho mais medo de me colocar um pouco mais. Não tenho mais medo de parecer tola, estou aprendendo a engolir orgulhos e de manter outros. Foi ter tido esse medo que carrego alguns arrependimentos - muito embora ele possa não ter sido "decisivo". Mas eu sempre acredito que o bater de asas de uma borboleta no Japão possa criar um terremoto no Brasil - e cada pequena escolha, cada pequeno jogar-se ou recolher-se possa sempre fazer alguma diferença. E é por isso que me exponho aqui hoje, como uma maneira de dirimir, de dissipar, de desgastar. Não temo mais a exposição. A única coisa que ainda temo é a possibilidade de ter estado certa - aquela vez, a última chance? 

domingo, 20 de maio de 2012

Eu evito as lutas do UFC, as artes marciais, o boxe, o MMA, o kung fu, os kimonos, o jiu-jitsu, as corridas, as grifes disso tudo. Evito as contas de física, a acupuntura, os canudinhos de chocolate, as batatas smile e a Granja Vianna. Evito os cavalos, Seabiscuit, os filmes com cavalos, os jóqueis, as hípicas, os pet shops, os golden, até a ferradura na porta de casa. Eu evito também as músicas do Oswaldo Montenegro e as cartas para Julieta. Só não evito as borboletas...


"A minha vida continua, mas é certo que eu seria sempre sua"



domingo, 13 de maio de 2012

A companheira - parte II


Deitava no sofá com um dos braços sob a cabeça; o outro empunhava uma revista. O corpo atlético estirado ao longo do sofá; os olhos fitavam calmamente a matéria, até que sentiu uma fisgada, dessas que passam logo. E passou mesmo. Mas veio a anunciar que já nao tinha mais concentração para continuar a leitura. Insistia nas letras. Olhava as palavras. Não enxergava mais o sentido entre elas. Fez novo esforço. Decidiu que leria até o final.

Ele tentava afastá-la, sem sucesso. Apenas uma delas poderia ficar. Inquieto, remexia-se. Perdia as linhas, retomava, ia e voltava. A moça aproximou-se. Recostou à beira do sofá, tentando ganhar atenção. Ele então, resolveu que não cederia a nenhuma das duas naquele momento. Fixou-se firmemente na leitura. Fincou o olhar na manchete, com certa dureza e indiferença. Quando encontrou-se novamente sozinho, largou a leitura de lado e sentou; apoiou os cotovelos nas coxas e esfregou o rosto, como se quisesse despertar.


Decidiria que honraria sua escolha. Não daria mais espaço àquela enxerida. Sabia o que queria. Retomou a rotina, a leitura, o hábito de tomar café com leite, de comer sonho e de pensar que não há mal na vida ser sempre a mesma; mesmo que assim não sentisse. Retomou o apreço pela mesmice, pelo fato consumado, pelo inquestionável. Mas não durou muito: antes do final da semana, sentiu a agulhada de novo. Debaixo d'água, entregue ao relaxamento do banho, sentiu que ela se aproximava. E que não consegueria detê-la. Era fatal. Sim, sabia que sua arrebatadora chegada - e permanência - seria fatal para alguém. A dúvida tornara-se sua mais fiel companheira...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A companheira


Depois de fazer exercícios, decidiu caminhar de volta para casa. Caminhava lentamente para que o corpo se acalmasse. A mochila preta e vermelha pendia no ombro direito; os cabelos, que já precisavam de aparo, começavam a ficar levemente molhados por causa  da garoa fina. Não tinha pressa de chegar. Tentava afastar a ideia, recusava-lhe a atenção, certo de que se esvairia dentro de alguns instantes. E, conforme previa, se esvaía. Ele dava-se como o vencedor, sem considerar que o ciclo retomava-se a cada oportunidade, entremeava cada pensamento.

Temia ter de reconhecer o questionamento. Temia o momento em que não conseguisse mais domá-lo, temia aquela hora em que o axioma invade, toma conta da conta e se instala na alma, como o mais devastador tsunami. Dali, sabia que não haveria volta. Por isso, evitava dar asas ao raciocínio. Sabia que podia ser custoso. Começou a correr; gostava disso. E gostava da distração que o movimento lhe causava. Uma gota escorria da franja e pingara no rosto, à porta de casa.

Entrou, jogou a mochila no chão e prosseguiu. Viu pelas costas aquela que o esperava; ela virou-se e gritou de felicidade. Ele fez um sorriso. Ela exclamou novamente em voz alta. A dúvida alfinetou com força. Já era tarde, não conseguiria contê-la. Fez outro sorriso e subiu as escadas. Calou-se, na certeza de que amanhã seria um novo dia. Sempre esperava o novo dia, depois da noite que tudo dissolvia. Por dentro, tudo emudeceu.

(continua)

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quanta saudade
E que toda a saudade
Morra

Com todos os planos
Com todo o futuro
Junto ao amor que reprimi
E ao carinho (que possa ter) represado

E tudo o que quis
Se vá em cinzas, num dia nublado
À mais leve
E insignificante brisa
que o vento soprar.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nada aquém

Aparentemente mais redonda que o normal, subitamente mais iluminada que o usual. Esbranquiçando a negra imensidão ao redor, a imperatriz da noite parecia clarear o céu anoitecido. Estava decidido: tinha de compartilhar a cena.

Na tela, uma sequência de círculos amarelados seguiam-se em fileira. Não sabia mais quem era a Lua. Todos tinham a mesma cor, o mesmo formato, a mesma distância. Não conseguia mais distinguir as ranhuras da superfície - nas noites de verão, com um pouco de sorte, posso vê-las quase como um véu de renda encobrindo o rosto da noiva. Na figura achatada, sumiu-se a residência de São Jorge entre as luminárias das malucas noites paulistanas.

A imagem registrada não tinha o menor sabor. A olho nu, podia deliciar-me com a claridade e com a surpresa daquilo que está sempre ali, suplicando por apreço. Mas não era o que dizia a fotografia; alguns retratossó podem ser vistos com o olhar da alma...

E há quem prefira enxergar luas nas luminárias e aqueles que vêem triviais luminárias na lua. Não gosto das mesmices, não gosto de mais do mesmo, não gosto das repetições. Gosto do que tem forma, gosto do autêntico, gosto das cores. Sou daquelas que enxerga poesia na florzinha perdida no muro, na borboleta que por engano entrou no quarto. Sou daquelas que prefere sentir o invisível a me entregar à crueza dos tiranos. O monocromático e o uniforme me desagradam; eu quero mesmo é ver o explodir de todas as nuances e o transcender de todas as formas...



"Eu sou metal; raio, relâmpago e trovão (...) Não me entrego sem lutar/Tenho ainda coração/Não aprendi a me render/que caia o inimigo então"





quarta-feira, 14 de março de 2012

O que faz você feliz?



A gente é feliz num segundo, num piscar de olhos, num semáforo, num aperto de mão. A gente é feliz num sabor, num sopro, numa lembrança, num suspiro, num desabafo, num sorriso desmedido, num levantar a cabeça e perceber o sol no meio de um dia de trabalho.


A gente é feliz no vacilo no meio de uma briga, numa bela coincidência, no observar o cãozinho que faz estripulia, em notar a cara de bobo do outro. A gente é feliz naquilo que a gente cria, naquilo que a gente escolhe notar. 


E hoje eu fui feliz estendendo meu passeio, gastando gasolina e cantando no carro; fui feliz perdendo meia hora a mais do meu tempo, que insisto em achar que vale  dinheiro, quando a felicidade é a coisa mais efêmera e intangível...


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Porque a vida é impermanência

A vida é movimento, é energia, é barulho, é vibração. É um eterno-enquanto-dure desconstruir e reconstruir, fazer, modelar, lapidar, aperfeiçoar, refazer, melhorar, difundir, progredir. A vida não é estagnação, não é fim, não é comodismo, não é conformismo. Não é letargia, não é inércia, não é paralisia, não é indisposição.Não é o último suspiro, não é o "ficar à mercê", não é o esperar; embora havemos de respeitar suas pausas...

Do contrário, a vida é feita de recomeços, de átomos em constante ebulição, de intermináveis desorganições, desconstruções e ruídos - é deles que são feitas as reconstruções, as inovações e o evoluir-se, mesmo que sejam penosas as desordens. A vida não é linha reta, não é covardia paralisante, não é tela de cinema. Ela é curva, é coragem apesar do medo, é buscar equilíbrio em meio ao caos e, mesmo assim, procurar lidar da melhor forma com o tumulto criativo. Não é remar contra a maré, muito menos deixar-se levar pelas ondas; mas buscar usar a força das águas e aproveitar o impulso.


Porque a vida é impermanência, é delusão, é incerteza, é transbordar-se. É o novo por excelência, o vento das mudanças e as infinitas possibilidades.

Bem-vinda, novidade!
2012 começou - e antes do carnval. 

"A vida termina onde começa a sua zona de conforto"





quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

O porta-brincos

Colocava os brincos de volta no porta-brincos, lado a lado, observava a harmonia entre os pares novos e as cores. Quase pude ouvir você dizer: "Quantos brincos e pingentes você tem?"
Quis censurar-me por um momento, mas larguei o sorriso no rosto. Afinal, é gostoso lembrar mesmo assim...
Pus-me a organizar os brincos com minúcia; vai que ainda queira vê-los....