sábado, 27 de dezembro de 2014

O lugar que ninguém mais pisou

Sabe, meu pai sempre faz uma piadinha infame, dizendo que as coisas “só acabam quando terminam”. É uma redundância inteligente, apesar do trocadilho besta. A Língua Portuguesa é rica exatamente por permitir que duas palavras expressem diferentes nuances de coisas semelhantes. Por isso, sempre acredito que, se há duas palavras, existe diferença entre o significado delas. Interminável é o que não de pode terminar e infinito é o que é eterno, que dura para sempre, por exemplo. E às vezes acaba, mas não tem término. 

Já faz tempo, mais de três anos, quase quatro!!! Tô ficando velha; entrei para a casa dos 30 mas parece que foi ontem. Ou parece que foi ontem hoje. Anteontem parecia que fazia um tempão que tinha ficado para trás. Mas ontem não pareceu, quando vi o coral dos Minions. Também não pareceu quando assisti “Seabiscuit” e “Cavalo de Guerra”. Mas fazia anos que parecia que foi há muito tempo. Não sei por que mudou. Ou imagino, depois que me dispus a fazer uma série de comparações e revirar meus padrões de comportamento e as histórias cujas lacunas ainda me faziam pensar vez ou outra. E na sua história tinha um rombo. Do mesmo tamanho do rombo que ficou na minha alma, na época. 

Não que a gente vá ter todas as explicações na vida, ela é assim mesmo. Te desafia sobre o quanto você pode ir adiante, sobre o que você é capaz de fazer com aquilo que ganhou. Minha grande virtude é que eu nunca paro, eu nunca travo. Eu me despedaço, mas sempre sigo com o que sobrou e vou juntando os caquinhos, de uma maneira ou de outra. Chorei como nunca, me desmanchei como nunca, tive noites de muita insônia enquanto eu assistia e tinha certeza da sua felicidade. É aquele momento em que você não pode fazer absolutamente nada. O caminho é simples, mas ele simplesmente não existe também. É como viajar de carro em meio à neblina. A estrada está ali, vai se desvelando metro após metro, mas é impossível saber que ela realmente está. 

E você parecia tão certo. Eu nunca nunca tive dúvidas em relação a você, ao contrário de todos os outros. Por mais apaixonada que pudesse estar, eu sabia que não era aquilo. No seu caso, era uma segurança incontestável, que eu nunca experimentara antes. Como a Summer descreveu no fim de “500 days of Summer”. Eu tinha certeza, mesmo que a vida viesse a me provar que eu estava errada. Admirava o jeito equilibrado de ser e era capaz de encontrar uma série de afinidades, desde o modo de pensar e até a rotina - hoje tenho a convicção de que você não tinha a mesma visão; óbvia e indubitavelmente você encontrou alguém com mais afinidades. Eu sei. 

Dediquei-me então a procurar seus defeitos, a encontrar qualquer um que valesse a pena me apegar. E, Meu Deus, como você era egoísta! Foi-se embora sem um tchau, sem carta de despedida, sem cena de novela. Sem música do Chico. Porque provavelmente eu não te importava tanto assim, isso foi fácil de concluir. 

Felizmente, dentro de uns poucos meses, me apareceram dois anjos consecutivos. Um moreno que me fazia rir e que fazia companhia diariamente, preenchendo exatamente o espaço que você tinha deixado. Depois, um par de estonteantes olhos azuis, que chegou com um novo emprego e uma nova fase: Mickey Blue Eyes. 

Mas a grande questão nisso tudo - e, antes que você pergunte, o motivo dessas linhas todas - é que, por meio de você, eu aprendi muito. Sobre mim mesma. E a gente certamente aprende mais quando erra, se houver autoquestionamento. Carreguei muitos arrependimentos e a angústia de saber que não, nunca iria poder tentar tudo de novo. Afinal, por que eu tinha de ter tanto medo, por que eu não pude ser mais sincera, por que eu tinha de ter tanta cautela, por que eu não podia ter me jogado de fato, se era o que eu verdadeiramente queria? Tantos bloqueios, tanto medo de errar… Será que você me viu por completo? Eu tinha permitido?

E ao tentar entender, assumir uma culpa talvez indevida, eu cresci. Eu amadureci. Soltei algumas amarras, passei a entender e a aceitar o que fugia a meu controle e a me entender também. E a compreender que eu não precisava ter controle e que nunca ia ter. E que perdê-lo nem sempre é ruim. Aprendi a me expressar, a ser sincera comigo mesmo. Porque, afinal, fazer tipo nunca vai te salvar se você tiver de cair no abismo. Ao menos, é melhor cair sabendo que você fez tudo o que podia ter feito ou o que sentia, ou que tinha vontade, ou o que fazia sentido. Exatamente o que eu não fiz, o que não soube fazer, do que tive medo. Hoje é diferente. 

Porque não há melhor sensação do que aquela de ver as possibilidades esgotadas com uma sensação de missão cumprida, de completude, de ciclo fechado. E não há pior sentimento do que o remorso de não ter tentado. É adicionar uma variável sobre a qual você é soberano. Levar dúvidas eternas para o túmulo. E para os dias, os anos. 

Por todo esse processo, eu queria te agradecer. A gente sempre se pergunta o porquê, e, quando o faz, é por não ter resposta. Mas ela sempre vem. Demora, mas vem. Só é preciso enxergá-la. 

Eu não conseguia mais estar no mesmo lugar, almoçar no mesmo lugar, fazer as coisas no mesmo momento desde que você se desencaixou da minha rotina. Então, eu tive de mudar de emprego, de academia, de trajeto, de rotina. E eu mudei. Me mudei. Cresci, aprendi. Afinal, a vida é mudança. Imobilidade é morte. O importante é que as coisas, mesmo as piores, façam algum sentido.





quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O ano da descontrução

Eu normalmente faço essa postagem antes das festas. E este final de ano será atípico; sem viagens, com um hiato entre o começo de um fim e o reinício ainda maior. Sem praia, sem religare, sem desconexão e reconexão. Estou lutando para não sentir apenas uma extensão de hoje e do ontem. Tenho sede de pausa no momento. Por menor que ela seja. Não porque o ano possa ter sido difícil e não porque tenha sido fácil também. Foi difícil no sentido de desafiador e fácil no sentido de ter me trazido inúmeras conquistas - aquelas que podem e aquelas que não se podem ver.

2014 foi uma ano de aprendizado e redescoberta. Não de descoberta. Porque o redescobrir é a proposição de um olhar diferente para o que já estava sendo observado. É um esforço de atualizar conceito, rever atitudes, criticar a si mesma, mesmo que para desmontar-se sem saber o que virá. E em todos os aspectos da minha vida eu fui bem sucedida nesse processo, neste custoso mas gratificante processo. Gratificante desde que se possa olhar os resultados, mesmo que não sejam objetivamente aqueles inicialmente almejados. É valorizar cada ponto marcado.

Este foi o ano de me permitir, de me expressar, de tentar uma tentativa, assim, redundantemente mesmo. Porque nem sempre a gente consegue perceber as próprias falhas e omissões da maneira mais simples e objetiva. E aguardamos infinitamente que as coisas simplesmente aconteçam. Foi o ano de me tornar definitiva e ativamente a protagonista da minha vida. Mesmo que ela não se pareça com comercial de margarina.

Foi o ano de ter coragem. Pra trocar de profissão, para questionar minhas próprias atitudes, para aprender a não ter medo do ridículo, a arriscar, a não carregar arrependimentos novamente. De pagar pra ver. De gostar e achar normal, de ter de esquecer e achar normal também. Estou deixando meus pequenos finais de mundo de lado. Aos 31 estou finalmente começando a dar as caras no mundo, da maneira como eu sempre achei que deveria e recomendaria, mas que nunca fizera. Me desconstruí.
Me revi. Fiquei mais leve.

E de fazer grandes reencontros comigo mesma. De entender que eu mudei. E que não preciso ter medo disso. E reencontrei-me com antigas paixões e com a velha Pamela. E descobri que ambas são capazes de despertar as mesmas emoções de dez ou três anos atrás. Incrível como você ainda causa repulsa; incrível como você ainda me faz sentir saltitante e familiar. Ainda quero as respostas de outro dia, mas temo que elas não me façam diferença agora - já que hoje eu faço diferença. Mas ainda assim as quero, para olhar pra frente. Ou te ter à frente. Mais uma vez, a primeira com a nova versão de mim mesma, muito parecida com cada novo iPhone - nada gritante, mas capaz de agregar muito valor.

Mesmo assim, seguem os tropeços, o aceitar a mim e às circunstância e fazer a melhor limonada suíça com leite condensado - quem sabe uma caipirinha! - e enriquecer com isso. E de também me preocupar mais comigo e menos com os outros. Parece fácil, não é? Até perceber que estava sendo contraditória consigo mesma.

Elegi duas palavras para 2015: ABERTURA e FLEXIBILIDADE. E não estranhem se deixar de lado sem pudor quem não retribui, amizades de espuma, amores cheios de dissabores e se disser que estou gostando muito da Bio Ritmo e que, por hora, não sinto falta de dançar. Aqui não cabe mais nenhum tipo de romantismo, embora ainda sobre muita emoção e sensibilidade.

Desejo-te um autêntico viver em 2015, aquele que pulsa na alma, mesmo que nunca tenha saído da garganta. Desejo que você deixe pular aquela pulguinha atrás da orelha. Ao menos, ela terá saído de lá. No more regrets. No more "ifs".