segunda-feira, 24 de junho de 2013

De tudo o que eu ainda não vi

A palavra saudade entala na garganta, mesmo que se julgue não haver razões para isso. Saudade de um futuro de não foi, que não haverá de ser. Mas que estava ali escrito em algum lugar, mesmo que com tinta fraca. Fica a sensação de incompletude, de eterna reticência. É um ciclo sempre aberto, escancarado, mas estagnado, sem a possibilidade de conclusão.

Saudade vem do sentimento de estranheza e solidão que os portugueses experimentavam longe da terra natal; daí o motivo da palavra ser conhecida apenas em português. Talvez não seja bem saudade; saudade tem a ver com saudar, com a espera do retorno. Aqui, mal há a espera de um contorno. Há interrupção e interrogação. Um descontentamento com a impossibilidade, um grito contido. Como um filme encerrado no meio, depois da cena mais crucial. Restam todos os questionamentos e a frustração.

E não há muito o que revirar, o que desvendar. As obviedades gritam, saltam na tela, urram em cada pensamento. É claro, tão óbvio que não há mais nada o que checar. E também não nada a temer ou a querer. Há apenas uma explícita proposta de despreendimento.

domingo, 2 de junho de 2013

Drowning

Ainda queria dizer muitas outras coisas, muito além daquilo que a mente permitia naquele momento. Sabia que se arrependeria dentro em breve, que não eram aquelas palavras a serem proferidas. Entre um suspiro e  uma pausa, tentava racicionar como podia fazer melhor, sem sucesso algum. Faltavam-me as ideias. Ia retumbando entre o eco de sua voz, mas cada vez que quisesse tentar uma sacada genial, a emenda era sempre pior que o soneto. Era melhor render-me à inaptidão.

Tentava ser, na esperança de que qualquer alguém que pudesse aparecer em meu corpo, naquele momento, pudesse ter final diferente. Mas tudo o que fazia era vacilar. A eloquência não faltava, mas pouco progredia no sentido certo. Caminhava a passos curtos, tropeçava, balbuciava e desistia. Quando persistia, era para condenar-me ao horror de revisar a trágica performance de minutos atrás. Permaneceria calada, se pudesse. Diria não à qualquer feixe de insistência interna.

Precisava só de um pouco mais de coragem e ousadia. E se perdesse? Perdas são parte da vida; mas não era óbvio que podia suportá-la. Por isso escolhia sempre o recuo. E se dessa vez fosse diferente? Era a antevisão do que aconteceria que assustava. Quisera ter fé em mim mesma quando sentia e quando tudo dizia o contrário. Eu era, de fato, um paradoxo sem fim.