segunda-feira, 24 de junho de 2013

De tudo o que eu ainda não vi

A palavra saudade entala na garganta, mesmo que se julgue não haver razões para isso. Saudade de um futuro de não foi, que não haverá de ser. Mas que estava ali escrito em algum lugar, mesmo que com tinta fraca. Fica a sensação de incompletude, de eterna reticência. É um ciclo sempre aberto, escancarado, mas estagnado, sem a possibilidade de conclusão.

Saudade vem do sentimento de estranheza e solidão que os portugueses experimentavam longe da terra natal; daí o motivo da palavra ser conhecida apenas em português. Talvez não seja bem saudade; saudade tem a ver com saudar, com a espera do retorno. Aqui, mal há a espera de um contorno. Há interrupção e interrogação. Um descontentamento com a impossibilidade, um grito contido. Como um filme encerrado no meio, depois da cena mais crucial. Restam todos os questionamentos e a frustração.

E não há muito o que revirar, o que desvendar. As obviedades gritam, saltam na tela, urram em cada pensamento. É claro, tão óbvio que não há mais nada o que checar. E também não nada a temer ou a querer. Há apenas uma explícita proposta de despreendimento.

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