segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Há poucos dias, entrei no Shopping Cidade São Paulo e fui invadida por um sentimento ambíguo: uma onda de familiaridade e, ao mesmo tempo, um certo aperto no peito, uma nostalgia que demorei alguns minutos para identificar. Cresci e "me construí" junto com ele; subimos lado a lado, ganhamos forma. Costumava ir ao shopping semanalmente; era meu dia de comprar Lindts, quase como uma recompensa pelo dia, pelo dever cumprido e para completar a minha felicidade. A verdade é que eu não tinha muita vontade de ir embora naquela época e procurava uma desculpa para ficar: o chocolate, as lojas novas, qualquer coisa servia, até andar a pé pela Paulista, porque eu queria mesmo é ficar. Eram dias de aprendizado, de conquistas, de realizações diárias, de bem-estar, de acolhimento e de descontração. Havia batalha também, mas havia retribuição naquele quarteirão. Não há nada como se sentir em casa e acho que esqueci minhas raízes por ali...

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Não percebeu a chuva que caía fina. Seguia caminhando, ignorando as gotas que insistiam em molhar o jaleco. Andava sempre no mesmo ritmo, sem notar que a chuva ia apertando. "Vai passar logo", pensou quando se deu conta. Em pouco tempo, era um temporal. Permanecia no mesmo passo, impassível. A roupa pesava no corpo, mas insistia na caminhada - é só uma chuva de verão, afirmava para si. Caminhava há horas, quando começou a sentir o frio em duras agulhadas na pele. Buscou um abrigo, mas já estava muito longe de encontrar algum. Era tarde; chovia madrugada adentro e tudo parecia longe demais. Aceitava o cruel destino de caminhar sob as águas torrenciais já que era tarde demais e sua escolha estava feita. Na verdade, acostumara-se com o peso do tecido da jaqueta, as poças e a temperatura, que insistia em cair. E ele, insistia em continuar andando. Até que arriscou dobrar à direita, onde a chuva permanecia, mas havia iluminação na rua. Parou na calçada, pingando. Já não podia se mexer e as gotas batiam feito martelo. Ficou ali mais uma ou duas horas, até que virou o pescoço e notou um foco de luz logo atrás. Olhou com desconfiança e assim continuou, imóvel. Exaurido, virou-se e descobriu logo ali uma espécie de passagem, que, sem mais titubear, adentrou. Era coberto e, finalmente, tinha onde se esconder da tempestade. O que não pôde ver, no entanto, era que do outro lado havia gente, havia música e havia festa...

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ainda jogado no sofá, abriu os olhos com dificuldade. Não conseguia lidar com a claridade. O sol estava a pino e já deviam ser 11h, pensou. Desperto, dirigiu-se até a janela ainda incomodado com a luz e estranhou o silêncio. Estava ligeiramente confuso; olhou para fora e notou que não havia movimento. Virou o rosto para o relógio, eram 6h42 de um domingo intrigante. Apertava os olhos e não conseguia compreender; tinha se passado tanto tempo... Mas era cedo ainda; ainda era domingo. Então a festa não fora tão longa e já não tinha mais ares de novidade nem de animação. Reconheceu e decidiu considerar o sincero domingo. Trocou de roupa, vestiu a alma, mudou o penteado, tirou a máscara e saiu. Trocou o provisório, o ensaiado e o delírio pelo domingo. Por aquele honesto e desajeitado domingo...

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Fevereiro

Pior do que um amor que não sobrevive à quarta-feira de cinzas é o folião que vive eternamente na quaresma, sem deixar-se renascer na Páscoa. Aquele que nunca mais permitiu-se entrar na avenida porque sofre de uma ressaca mal curada, que esqueceu o samba e a terça-feira e afogou-se nas cinzas de antes de antes do meio-dia. Escorregou no frevo e esqueceu o trio elétrico. Desistiu de acompanhar o bloco e não ouve mais o axé que insiste em tocar em sua porta. Deixou de admirar a madrinha de bateria e nunca mais quis ser destaque de carro alegórico.

A quarta-feira de cinzas sempre vem e o melhor a fazer é recolher a fantasia e guardar as plumas para um novo Carnaval. Criar uma nova alegoria e enchê-la de brilho. Um novo Carnaval sempre vem, meu irmão. Só não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar. Deixe o batuque invadir sua alma e arrisque o ziriguidum. Pode ser preciso algum rebolation, mas olha - vai ser maravilhoso quando seu coração retumbar junto com a bateria outra vez. Nessa passarela, eu serei então a porta-estandarte.



Nem cinco minutos guardados