quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Não percebeu a chuva que caía fina. Seguia caminhando, ignorando as gotas que insistiam em molhar o jaleco. Andava sempre no mesmo ritmo, sem notar que a chuva ia apertando. "Vai passar logo", pensou quando se deu conta. Em pouco tempo, era um temporal. Permanecia no mesmo passo, impassível. A roupa pesava no corpo, mas insistia na caminhada - é só uma chuva de verão, afirmava para si. Caminhava há horas, quando começou a sentir o frio em duras agulhadas na pele. Buscou um abrigo, mas já estava muito longe de encontrar algum. Era tarde; chovia madrugada adentro e tudo parecia longe demais. Aceitava o cruel destino de caminhar sob as águas torrenciais já que era tarde demais e sua escolha estava feita. Na verdade, acostumara-se com o peso do tecido da jaqueta, as poças e a temperatura, que insistia em cair. E ele, insistia em continuar andando. Até que arriscou dobrar à direita, onde a chuva permanecia, mas havia iluminação na rua. Parou na calçada, pingando. Já não podia se mexer e as gotas batiam feito martelo. Ficou ali mais uma ou duas horas, até que virou o pescoço e notou um foco de luz logo atrás. Olhou com desconfiança e assim continuou, imóvel. Exaurido, virou-se e descobriu logo ali uma espécie de passagem, que, sem mais titubear, adentrou. Era coberto e, finalmente, tinha onde se esconder da tempestade. O que não pôde ver, no entanto, era que do outro lado havia gente, havia música e havia festa...