segunda-feira, 18 de junho de 2012

Nem um ano sequer


Achei um papel no meio do livro. Notei que continham letras manuscritas em tinta preta. Antes de abrir, torci para que fosse uma boa notícia, uma lembrança boa, um bom presságio escondido dentro das páginas que eu só abriria alguns meses depois. Era a feliz memória de uma confraternização entre amigos; um jogo inteligente e engraçado, típico daquelas pessoas que, ao acaso, gostavam de trabalhar e de estar juntas; fora há quase um semestre. E dei conta do tempo.

Um ano se passou desde aqueles dias e muita coisa mudou. Muita coisa continua mudando. Mudei praticamente tudo o que pretendia mudar - falta pouco. Eu não imagininava esse ano depois, eu não poderia imaginá-lo. Dentre as circunstâncias semelhantes, previa sempre as possibilidades boas e más - desta vez, só o positivo estava contemplado. Mudaram as situações, os locais que frequento, as pessoas ao redor, a rotina à qual me submeto, as formas que me rodeiam, os movimentos e caminhos que faço. Só as alfinetadas em meio a interrogações e flashes que ainda permanecem. Muito mais intermitentes sim, com facilidade para enxotá-las e até desprezá-las quando quero. E ainda surgiam no meio do clipe amargamente reconhecido, da frase rememorada. 

Eu tinha muito medo de que esse ano passasse. Sabia que seria muito, sabia que o tempo era inexorável, sabia que a situação seria realmente irremediável. Temia muito que isso acontecesse, mas não confiava que esse dia seria real; seria tudo da maneira mais cinza possível e eu só almejava o azul anil... E passou. Da maneira mais novelesca que poderia passar, com as lembranças a galope em meio a um turbilhão de grandes e pequenas mudanças dentro e fora de mim. Sou outra e sou a mesma. 

E não tenho mais medo de me expor aqui. Não tenho mais medo de me colocar um pouco mais. Não tenho mais medo de parecer tola, estou aprendendo a engolir orgulhos e de manter outros. Foi ter tido esse medo que carrego alguns arrependimentos - muito embora ele possa não ter sido "decisivo". Mas eu sempre acredito que o bater de asas de uma borboleta no Japão possa criar um terremoto no Brasil - e cada pequena escolha, cada pequeno jogar-se ou recolher-se possa sempre fazer alguma diferença. E é por isso que me exponho aqui hoje, como uma maneira de dirimir, de dissipar, de desgastar. Não temo mais a exposição. A única coisa que ainda temo é a possibilidade de ter estado certa - aquela vez, a última chance? 

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