quinta-feira, 5 de abril de 2012

Nada aquém

Aparentemente mais redonda que o normal, subitamente mais iluminada que o usual. Esbranquiçando a negra imensidão ao redor, a imperatriz da noite parecia clarear o céu anoitecido. Estava decidido: tinha de compartilhar a cena.

Na tela, uma sequência de círculos amarelados seguiam-se em fileira. Não sabia mais quem era a Lua. Todos tinham a mesma cor, o mesmo formato, a mesma distância. Não conseguia mais distinguir as ranhuras da superfície - nas noites de verão, com um pouco de sorte, posso vê-las quase como um véu de renda encobrindo o rosto da noiva. Na figura achatada, sumiu-se a residência de São Jorge entre as luminárias das malucas noites paulistanas.

A imagem registrada não tinha o menor sabor. A olho nu, podia deliciar-me com a claridade e com a surpresa daquilo que está sempre ali, suplicando por apreço. Mas não era o que dizia a fotografia; alguns retratossó podem ser vistos com o olhar da alma...

E há quem prefira enxergar luas nas luminárias e aqueles que vêem triviais luminárias na lua. Não gosto das mesmices, não gosto de mais do mesmo, não gosto das repetições. Gosto do que tem forma, gosto do autêntico, gosto das cores. Sou daquelas que enxerga poesia na florzinha perdida no muro, na borboleta que por engano entrou no quarto. Sou daquelas que prefere sentir o invisível a me entregar à crueza dos tiranos. O monocromático e o uniforme me desagradam; eu quero mesmo é ver o explodir de todas as nuances e o transcender de todas as formas...



"Eu sou metal; raio, relâmpago e trovão (...) Não me entrego sem lutar/Tenho ainda coração/Não aprendi a me render/que caia o inimigo então"





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