quarta-feira, 9 de julho de 2014

Terapia da bola*

Tristemente, o País do futebol perdeu de 7 x 1. Não foi a seleção canarinho. Todos nós nos sentimos derrotados, fracassados, humilhados.

Em parte, porque somos um país carente de heróis, carente de perspectivas e carente de possibilidades e de futuro. E não há nada de mais "tangível" para um garoto de rua do que poder sonhar, almejar em ser o próximo Neymar; não é simplesmente uma questão de esperança. É uma questão de opção. Provavelmente ele não tenha a oportunidade de estudar; se tiver, provavelmente será discriminado; se não o for, provavelmente não terá a mesma bagagem de um playboy; se tiver, irremediavelmente não terá um tio para indicá-lo; e ainda se tiver, será discriminado por suas origens dentro de um país miscigenado e ainda sem identidade, que insiste em fazer diferença a quem não tiver talento para dizer: "Lá na Disney a coisa toda é muito melhor. Detesto esse país" (Sim, a Disney. Patetas inclusos) - mesmo que seja nesse fim de mundo que faça o seu pé de meia, mesmo que seja mais um explorador deste quintal, mesmo que seja daqui que provenha seu sustento e sua soberba.

O outro lado vem da resistência. Sempre fomos o País do futebol. Deixamos de ser os campeões na Fórmula-1, agora morreu também o futebol. Não somos os melhores (nem razoáveis) na educação, na saúde, na política. Por sorte, éramos conhecidos pelo futebol. Um acaso, um presente do Deus-brasileiro. Nunca nos preparamos para isso. Simplesmente éramos. Porque era simples-fácil-barato ter uma bola nos pés e treinar em qualquer várzea-deserto-rua-quintal-cerrado e aterro sanitário. Do mangue, podia sair qual Fenômeno. Não era preciso barra, piscina ou bicicleta. Democrático e possível. Enquanto gastamos o tempo com a certeza de nosso talento, o patinho feio japonês dedicou-se a estudar a técnica. E a chegar a uma Copa. E todo autoconfiante é pedante e torna-se obsoleto; é fraco demais para ter autocrítica e abrir mão dos próprios paradigmas empederninos.

Não sejamos nós também resistentes. Se nos desapegarmos da pecha de "melhores" talvez possamos um dia voltar ao pódio. Enquanto a arrogância nos cegar, nunca estaremos aptos a olhar para nós mesmos. É preciso vencer a resistência pelo bem de cada um de nós como pessoas, para que possamos fazer a autocrtítica, aprender e superar-se, sem vergonha de mudar. E é preciso admitir que não somos mais os campeões, para que possamos entender, abrir-se para o que é diferente sem ressalvas e sem bloqueios, para restaurar o lugar que já foi nosso. O primeiro passo é negar a negação. E assumir a situação com resiliência. Como brasileiros, como nação e individualmente, em nossas vidas pessoais. Brasileiro tem a mania de insistir e de persistir, mas, muitas vezes, no erro.   


* Sem revisão em 9/7/14.

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