Era filha da criatividade, da ousadia, da entrega. Gostava das ironias, detestava rotinas, adorava o lado b e o avesso. Acreditava nas cores que explodiam sem querer, adorava decifrar os signos escondidos e buscar as mensagens ocultadas. Mas odiava ser revelada.
Sem notar, sabia que teria sempre seu lugar entre a maioria. Que estaria confortavelmente do lado de dentro. Que tudo correria conforme o planejado. Tudo seria rosa e pontual, mesmo que o mundo fosse um arco-íris e um relógio sem bateria.
Um dia deu-se conta de que seguia a manada. Que esforçava-se para seguir a manada. Deprimiu-se quando percebeu que era a ovelha desgarrada. Que era a minoria. Desesperou-se por ver tantas cores de cinzas, depois cegar-se de amarelo. Sofria com a própria contradição.Percebeu-se inexplicavelmente diferente dos outros e daquilo que acreditava que seria. Sentiu-se só. Cartesianamente só. Surpreendentemente só. Depois, revolucionariamente só.
Decidiu renascer. Tornar-se o que sempre quis ser, o que sempre admirou. Precisou de bravura. Andar entre raios e trovões para ver o próprio esplendor. Sentiu a ventania cortar a carne, mas finalmente explodiu em cores. Fossem marrons ou azuis. Tornou-se o que havia de ser. Libertou-se do rebanho. Resgatou a si mesma, perdida dentro das convenções. Mesmo que lhe custasse a solidão. Encontrar-se dentro de si mesma não tinha preço.
Mary Jane (Spiderman)
Lindo texto! Suave e forte ao mesmo tempo. Escrito com alma, uma alma que está aberta nas possibilidades de existir!
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