A imagem dos dois braços tatuados, aliados ao coturno preto, apesar do calor e da saia jeans, contrastavam fortemente com o frágil pranto a que ela se entregara. Saí dali refletindo que a chamada que recebera (ou fizera) teria interrompido seu dia. Interrompera o caminho, o dia, o trajeto, as próximas horas. Torci para que ela não estive indo para o trabalho; o prejuízo seria maior. Bons eram os tempos em que se podia esperar a hora de chegar em casa para ter uma briga ou receber uma má notícia; assim como eram bons os tempos em que se podia romper sem nunca mais ter notícia do ex-vínculo. Especulei sobre o uso da mochila que ela carregava. Que ela fosse ao cursinho, à faculdade, à escola; qualquer lugar onde os momentos que se seguiam fossem ligeiramente mais confortáveis.

É mais conveniente exigir a atenção do outro a todo momento, a todo lugar, sob qualquer circunstância do que lidar com a própria insegurança; assim como é mais fácil eximir-se da responsabilidade de olhar olhos nos olhos para dizer as incompatibilidades e as dores. E nada substitui o sentir, o intuir e o perceber. A linguagem corporal, o piscar dos olhos, o tom de voz, o toque. Evitar o fardo e o enfretamento, assim como dispensar a reflexão silenciosa.
E por que minha zanga recai sobre os aparelhos de telefone celular? Porque são os mais portáteis dos conectores e o mais online de todos, em todas as redes. Permanecem colados ao corpo, extensões de nós. Eu mesma já cometi a atrocidade de voltar para casa para buscá-lo - e mais de uma vez. Ele impera que encarnemos todos os papéis de uma vez só: somos, ao mesmo toque do celular, o profissional, o amante, o filho e o amigo. E é remota a chance de negar qualquer atuação.